Jornal Estado de Minas

Estratégia política

PT orienta militância a ir para a rua e participar de protestos

A ideia é fazer um contraponto para fazer frente a partidos de oposição que já trabalham para se associar aos protestos

Tércio Amaral
O PT quer "fazer as pazes" com os movimentos sociais organizados no país. Nessa quarta-feira, depois do anúncio de que a Prefeitura de São Paulo aceitou baixar a tarifas de ônibus na cidade, o partido determinou que seus militantes participem dos protestos que tomaram conta de várias cidades no país. Em Recife, por exemplo, mais de 100 mil pessoas já confirmaram presença no ato, cuja concentração é na Praça do Derby, no Centro, às 16h, na tarde desta quinta-feira. Após a pressão lançada em cima da presidente Dilma Rousseff, a legenda vinha mantendo certa distância dos protestos.
A orientação mais polêmica da direção do partido é que os militantes possam participar abertamente dos protestos, inclusive, com camisas e bandeiras. Os movimentos que estão organizando os protestos querem, justamente, afastar este tipo de demonstração pública de afeto aos partidos políticos. Porém, alguns dirigentes afirmam que esta ideia é fazer um contraponto para fazer frente a partidos de oposição que já trabalham para se associar aos protestos. O PT também argumentou juntos aos filiados que a legenda “nasceu dos movimentos sociais” como instrumento da “luta por uma sociedade igualitária”.

Numa nota oficial, o partido ainda condenou os atos de vandalismo de vandalismo e a violência contra manifestantes. Neste último tema, a legenda reservou críticas diretas à Polícia Militar do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Aliás, a movimentação em torno dos protestos pode indicar uma reestruturação do partido.

Leia a íntegra da nota do PT:


O PT nasceu dos movimentos sociais. Nascemos como instrumento de luta por uma sociedade igualitária e sem nenhuma forma de discriminação e preconceito. A nossa história foi construída na defesa dos movimentos sociais e de suas legítimas manifestações.

O Partido dos Trabalhadores do estado de São Paulo repudia a violência da Polícia Militar do Governo Alckmin e exige a devida apuração dos fatos, bem como que os responsáveis sejam punidos.

O PT estadual ratifica o conteúdo da nota publicada pela Executiva Municipal do PT da Capital.

Os governos Lula e Dilma implantaram em nosso país um modelo de desenvolvimento econômico e social que proporcionou a maior revolução social da nossa história e uma das maiores do mundo. São 36 milhões de brasileiros que saíram da miséria e outros 40 milhões que ascenderam socialmente. O Brasil gerou 19 milhões de empregos na última década, a juventude brasileira teve acesso a programas que criaram perspectivas de futuro, 1,2 milhão de jovens que tiveram acesso ao ProUni. Na contramão do mundo, o Brasil apresentou queda vertiginosa no desemprego de jovens de 22% para 13%. Hoje o Brasil é referência para grandes potências no enfrentamento à crise internacional com capacidade de gerar justiça social. Rompemos com a submissão internacional e os governos Lula e Dilma deram início à construção da autoestima do povo brasileiro.

Reconhecemos que a construção desse projeto de nação não significa a superação de todos os nossos problemas e contradições. Um dos graves problemas a serem enfrentados é o desordenado modelo de desenvolvimento urbano que gerou cidades e concentrações urbanas que hoje são cenários de injustiças e conflitos. Nas regiões metropolitanas, o transporte público é uma das principais demandas a serem enfrentadas junto com o trânsito, a moradia, as enchentes, a violência, entre outras manifestações do descaso governamental de décadas.

O transporte público de qualidade e a democratização ao seu acesso sempre foram grandes bandeiras do Partido dos Trabalhadores e dos movimentos sociais. Temos convicção que é necessário repensar o atual modelo de transporte público nas regiões metropolitanas. É necessário que se crie as condições para que haja uma mudança estrutural na regulamentação do setor, envolvendo municípios, estados e União para que o transporte de qualidade seja um direito de toda a população, principalmente dos setores mais fragilizados da nossa sociedade. O Governo Dilma já teve iniciativas importantes como a desoneração do setor que reduziu o custo do transporte público no Brasil.

O Partido dos Trabalhadores manifesta sua total confiança no governo do prefeito Fernando Haddad (PT) que ainda não teve tempo hábil para pôr em prática seu programa de governo, tampouco fazer as mudanças que pretende na área dos transportes, as quais foram compartilhadas com população durante campanha eleitoral. Ao autorizar o atual aumento do preço das passagens, o governo municipal ponderou sobre o impacto no orçamento dos usuários do sistema e não repassou integralmente a defasagem do período. O desenvolvimento do governo Haddad vai estabelecer mudanças no sistema de transporte da cidade democratizando o acesso.

A história do prefeito Fernando Haddad é a história de um gestor, intelectual e militante comprometido com a democracia e com os movimentos sociais, não havendo, assim, qualquer dúvida das suas opções políticas.

A atual crise que é vivenciada pela cidade de São Paulo será equacionada pelo diálogo. É hora das lideranças vinculadas aos movimentos sociais se abrirem ao debate de posições. Os movimentos encontrarão na Prefeitura um líder democrático e disposto a construir coletivamente um novo modelo de transporte para a cidade de São Paulo.

O PT não compactua com qualquer tipo de violência, praticada por setores que tentam tirar proveito das manifestações para propagar o caos.

Defendemos um diálogo permanente para que se construam soluções para os problemas históricos enfrentados na área do transporte público, assim como demais demandas urbanas.

A Direção do PT do estado de São Paulo convoca toda a sua militância a trabalhar para a construção de espaços de diálogos, instituindo o ambiente democrático popular para a superação das contradições pautadas pelos movimentos sociais. A Direção do PT também convoca seus filiados e militantes a defenderem os movimentos sociais e suas legítimas manifestações, também cumprindo nosso papel histórico de liderar os movimentos pela construção de uma sociedade justa e igualitária, inspirada no sonho de uma sociedade socialista.