Jornal Estado de Minas

Dilma faz chamado por ordem e progresso

Em pronunciamento à nação, presidente rechaça atos de violência e defende um amplo debate das reivindicações dos manifestantes

Jorge Macedo - especial para o EM
Alessandra Mello

  - Foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press. Brasil.. Reprodução

Pressionada ao longo da semana por causa dos protestos que varreram o país de norte a sul e a invasão do Itamaraty na noite de quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff falou ontem em cadeia nacional de rádio e televisão. No pronunciamento, que durou cerca de dez minutos, ela não usou sua tradicional blusa vermelha, cor do seu partido, o PT. O tom dessa vez era neutro, menos eleitoral e mais administrativo. Dilma defendeu os protestos que se arrastam por duas semanas, mas condenou o quebra-quebra perpetrado, segundo ela, por uma “minoria violenta e autoritária”. “A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada, e ela não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros”, disse a presidente, que ao longo de sua fala distinguiu manifestantes de baderneiros. Admitiu problemas, mas colocou a culpa pela não solução deles nas “limitações políticas e econômicas”.

A presidente chamou governadores e prefeitos para dividir as responsabilidade e a busca por uma solução para todas as questões que afligem a população. Ela falou ainda sobre a Copa do Mundo, defendeu os partidos políticos, rejeitados por manifestantes durante os protestos, e assegurou que a ordem será mantida. “É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático. Temos de fazer um esforço para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais abrangentes sobre os seus representante”, disse ela, em seu primeiro pronunciamento após o acirramento das manifestações.

A decisão da presidente de convocar uma cadeia nacional para falar foi tomada ontem depois de uma série de reuniões feitas ao longo dia com os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo; do Esporte, Aldo Rebelo; da Educação, Aloizio Mercadante; e da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, responsável pela articulação entre a Presidência da República e os movimentos sociais. O ministro da Comunicação Social do governo Lula, Franklin Martins, também esteve com a presidente em Brasília. Ele já havia participado da reunião de Dilma com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo, na terça-feira, para tratar da onda de protestos.

 Outros ministros também passaram ao longo do dia pelo Palácio do Planalto para tratar dos protestos, que na noite de quinta-feira reuniram cerca de 1,4 milhão de pessoas em mais de 100 cidades Brasil afora. Dilma cancelou a viagem que faria ontem a Salvador, capital baiana, onde lançaria o Plano Safra do Semiárido, para tratar das manifestações. Na quinta-feira, ela já havia decidido cancelar a ida ao Japão na semana que vem.

A presidente repetiu em seu discurso que está “ouvindo as vozes democráticas que pedem mudança” e pediu mais uma vez que os protestos sejam pacíficos. “Eu estou ouvindo vocês! E não vou transigir com a violência e a arruaça. Será sempre em paz, com liberdade e democracia que vamos continuar construindo juntos este nosso grande país”.