A maior parte das hostilidades aos militantes de partidos políticos que foram à manifestação da Avenida Paulista na noite de quinta-feira partiu de pessoas que foram identificadas, pelos próprios militantes, como integrantes de grupos de extrema direita, como skinheads e carecas. Seriam dois grupos: os Carecas do ABC e os Carecas do Brasil.
Nenhum desses integrantes, todos jovens, portava bandeiras nem qualquer outro símbolo que os identificasse. Tinham a Bandeira do Brasil nas costas. O alvo foi os militantes dos partidos do ato, de esquerda: PCB, PSOL, PSTU, PCO e, principalmente, o PT (cuja presença acirrou os ânimos da massa, que gritava contra corrupção). A ala jovem desses partidos apoia o Movimento Passe Livre (MPL) desde o primeiro protesto, do dia 6.
Nenhum dos carecas quis falar com o jornal O Estado de S. Paulo. Na terceira tentativa, um dos rapazes tentou intimidar a reportagem, dizendo: "Olha, não gosto de comunista nem de jornalista", antes de se juntar com mais dois rapazes e começar a apontar para o repórter.
Os gritos sobre o orgulho de ser brasileiro dos carecas se misturou ao dos cerca de 110 mil pessoas que estavam ali, o que minimizou tentativas de repressão popular à violência contra os partidos. Outro fator foi o grito de "sem partido" para os militantes, o que foi de encontro à insatisfação da rua, que tem na corrupção política um de seus maiores alvos.
Um cordão humano tentou isolar as pessoas que portavam as bandeiras da massa, o que terminou em uma grande troca de socos e empurrões, até os partidos desistirem de marchar, na altura do Masp. Quem viu tudo de longe preferiu não intervir. "Não apoio a violência. Mas acho que os partidos não deviam ter vindo. Eles querem se aproveitar do momento", disse a estudante Maria Fernanda Zanuto, de 22 anos, que estava na marcha com um cartaz pedindo a saída do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB).
"Tomamos muita cusparada. Foi uma manifestação de intolerância", disse uma das militantes alvo das agressões, Fátima Sandelho, de 38 anos. "O que tentamos fazer foi proteger os militantes mais velhos, de 70 anos", contou Jonas Constantino, de 26.
Os grupos "hostis" foram identificados por alguns dos "seguranças" dos partidos, ligados a grupos de ideologia punk anarquista, de extrema esquerda, que também acompanhavam o MPL e são tidos como "inimigos" dos carecas desde a década de 1980. Entre eles, corria informações de que os carecas estavam armados com facas, paus e revólveres.