Brasília – Sem a certeza do quanto as manifestações dos últimos dias arranharam seu projeto de reeleição em 2014, mas convicta de que precisa dar uma resposta rápida e eficiente para as reivindicações, sob o risco de que a insatisfação das ruas contamine ainda mais o governo, a presidente Dilma Rousseff terá uma semana decisiva para o próprio futuro. Passou ontem o dia no Palácio do Alvorada recebendo ministros, checando números, buscando propostas. Hoje, estará com governadores e prefeitos de capital para debater soluções conjuntas para a crise que assolou todos os políticos com mandato eletivo.
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Anastasia vai para Brasília se reunir com DilmaEntidades cobram de Dilma avanço na pauta popularDilma testará novo estilo para salvar reeleiçãoPasse Livre pedirá tarifa zero em encontro com DilmaGovernadores vão a Brasília para 'ouvir' o governoPrefeitos vão pressionar Dilma por mais receitasO diálogo com o atual movimento torna-se ainda mais complicado porque não se sabe quem está do outro lado na figura de interlocutor. Se Dilma tem dificuldade em aceitar a legitimidade de atores conhecidos, como fará para autenticar porta-vozes difusos, com queixas diversas? Se nem os comandantes dos protestos se intitulam como tais, com quem a presidente poderá conversar nas próximas semanas para tentar baixar a temperatura das ruas?
Um importante ministro afirmou ao Estado de Minas que a presidente precisa, com urgência, identificar quais são esses os interlocutores para que o debate seja iniciado. Tudo isso sem abrir mão dos demais representantes dos movimentos sociais, para que estes não se sintam desprestigiados e transfiram o foco da crise para outros pontos.
Além disso, o mesmo integrante do primeiro escalão dilmista defendeu a urgência de se abrir um diálogo sobre o legado da Copa e das Olimpíadas Rio 2016, um dos pontos centrais da pauta dos manifestantes. Para esse ministro, o governo foi tragado pelo argumento de que o dinheiro foi jogado fora em estádios superfaturados, sem que a população comum se beneficiasse disso.
Ontem, no Alvorada, dentre as diversas reuniões que teve, a presidente discutiu mobilidade urbana. Um das promessas centrais do governo quando o país conquistou o direito de sediar o Mundial e os Jogos Olímpicos, pouco foi feito nesse setor nos últimos anos. As principais obras não saíram do papel e, das que saíram, muitas delas não ficarão prontas a tempo dos jogos. Dilma quer soluções e deve se apegar, ainda mais, nas concessões de aeroportos, portos, rodovias e ferrovias, cujos editais serão lançados ao longo de 2013.
Urgência
Dilma também precisa, na opinião de pessoas próximas, sair do casulo no qual se envolveu nos últimos meses e conduzir, como estadista, um grande pacto envolvendo governadores, prefeitos e Congresso Nacional. “Chegou a hora de pararmos de falar e de começarmos fazer. Isso vale para o governo e vale para o Congresso”, declarou o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE). “E não adianta apenas fazermos. Temos que ter urgência nessa ação”, defendeu o petista.
Ele defende a prioridade para a pauta apresentada pela própria Dilma no pronunciamento de sexta-feira, dentre elas a destinação de 100% de recursos dos royalties para a educação. Além disso, Guimarães vai propor na reunião de líderes da Câmara, marcada para amanhã, que se vote com rapidez o projeto do deputado Mendonça Filho (DEM-PE) que desonera de PIS/Cofins o setor de transportes, bem como o Fundo de Participação dos Estados (FPE).
Reticente, um aliado do Planalto lembrou que a destinação dos royalties para a educação já foi rejeitada uma vez pelo Congresso. O projeto que tramita na Câmara é nova tentativa de Dilma, mas ninguém tem a certeza se ele será aprovado. “Além disso, o Supremo (Supremo Tribunal Federal) ainda não definiu de quem são os royalties, se dos estados produtores ou não produtores. Por que as pessoas não vão protestar também no Judiciário?”,queixou-se o deputado Danilo Forte (PMDB-CE), relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Na cadeia de rádio e televisão da noite de sexta-feira, Dilma também prometeu agilizar a entrada de médicos estrangeiros no país, ideia que vem sendo rechaçada com frequência pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Esse foi um dos assuntos tratados ontem nas diversas reuniões no Alvorada. Como não há consenso e a presidente precisa de respostas rápidas, ela deve anunciar amanhã editais destinados a preencher vagas de médicos residentes e investimentos de R$ 100 milhões na rede pública de saúde.