Jornal Estado de Minas

Em 10 anos, pelo menos 563 índios foram assassinados no Brasil

Situação dos povos indígenas vem se deteriorando no país. Relatório aponta 470 suicídios apenas em Mato Grosso do Sul

Felipe Canêdo

Pelo menos 563 índios foram assassinados no Brasil desde 2003 e somente em Mato Grosso do Sul 470 se suicidaram. Relatório produzido pelo Conselho Missionário Indigenista (Cimi) aponta que a situação dos povos indígenas no país vem se deteriorando de forma alarmante nos últimos anos, com aumento de casos de mortalidade infantil, violência sexual, falta de assistência médica, alcoolismo e dependência de outras drogas. Em 2012 houve casos de suicídio no Tocantins, Mato Grosso, Rondônia, Roraima e  em Mato Grosso do Sul. Paralelamente, o documento destaca que a velocidade dos processos de demarcação de terras foi reduzida na última década.

Em 2012 foram registrados 56 suicídios somente entre o povo Guarany Kaiwá – em disputa pela regularização de terras em Mato Grosso do Sul e que chegou a divulgar uma carta, interpretada como sugestão de suicídio coletivo de uma tribo e que alarmou a imprensa nacional e internacional. A média de mortes autoinfligidas entre integrantes dessa etnia aumentou de 5,2 por ano entre 1981 e 1989 para 35,8 entre 1990 e 2002 e para 47 entre 2000 e 2012. Com uma população atual de 31 mil caiovás brasileiros, salta aos olhos o número de 611 suicídios entre 2000 e 2012, a grande maioria de jovens, e um total de 1.088 de 1989 até o ano passado. A média brasileira de suicídios é de 4,9 para cada 100 mil habitantes. Entre os caiovás essa média foi de 3.509 por 100 mil, ou 716 vezes maior.

O número de terras indígenas homologadas caiu de 18 ao ano no governo Fernando Henrique Cardoso para 10 no governo Luiz Inácio Lula da Silva e cinco no governo Dilma Rousseff. No ano passado, sete foram homologadas – nenhuma em Mato Grosso do Sul. Segundo o Cimi, existem 339 terras indígenas ainda não identificadas no país. No ano passado, nove conflitos relativos a direitos territoriais foram registrados no Ceará, Mato Grosso do Sul, Pará e Santa Catarina.

A entidade chama atenção para o crescimento de casos de desassistência na área da saúde de aldeias que aumentaram de 53 em 2011 para 86 em 2012, prejudicando pouco mais de 80 mil indígenas. Em Minas Gerais, em São João das Missões, o povo Xakriabá reclama de não receber atendimento médico. No Acre, onde a situação é das mais graves do país, há diversos relatos de falta de medicamentos, de médicos e de água potável, o que teria deixado dezenas de crianças gravemente doentes. O aumento de casos de dependência de drogas, inclusive  álcool, também preocupa os indigenistas, que apontam 13 casos de dependência  de comunidades inteiras, contra nove em 2011. Seriam pelo menos 254 mortes no Acre, Amazonas, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco e Roraima.

MORTALIDADE INFANTIL

Dados do Cimi mostram que 26 crianças indígenas menores de cinco anos faleceram de doenças consideradas pela entidade como “facilmente tratáveis”. No Acre, 13 crianças de diversas etnias morreram de diarreia e vômitos. O texto denuncia falta de água potável em aldeias em Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Segundo o documento, o governo federal usou em 2012 apenas 33% das verbas autorizadas em seu orçamento para a proteção social de povos indígenas, R$ 8,7 milhões de um total de R$ 26 milhões. Pelo menos 12 indígenas foram vítimas de violência sexual no ano passado, sendo que no Amazonas foram registrados casos de abuso de meninas de até 10 anos e haveria uma rede de pedofilia no município de São Gabriel da Cachoeira.