Enviado especial
Rio de Janeiro e Brasília – Se dentro de campo o Brasil conquistou a Copa das Confederações com uma vitória incontestável sobre a Espanha, no lado de fora do Maracanã, um conflito entre policiais e manifestantes deu a tônica de mais um dia conturbado no país. O protesto foi iniciado à tarde de maneira pacífica, mas, no começo da noite, transformou os arredores do estádio em uma verdadeira praça de guerra. Bombas foram lançadas por policiais em resposta a pedras e garrafas arremessadas. Houve tiros com balas de borracha, pessoas feridas e desespero entre moradores e comerciantes, que tiveram que fechar as portas cedo.
Os manifestantes saíram pacificamente da Praça Saens Peña, no Bairro da Tijuca, a um quilômetro do Maracanã, em direção aos arredores do estádio. Ao longo do caminho, o protesto foi ganhando adesões. Na linha de frente, homens encapuzados vestiam roupas pretas. Por volta das 18h, o grupo chegou ao cruzamento da Rua São Francisco Xavier com a Avenida Maracanã, onde a polícia montou três linhas de isolamento – com homens da Polícia Militar (PM), da Força Nacional e da tropa de choque – para impedir que os ativistas se misturassem aos torcedores.
Leia Mais
Protestos perdem força em todo o paísManifestações que invadem as ruas do país são analisadas por 'velhos' militantesExcluir partidos de manifestações é antidemocrático, diz Gilberto CarvalhoProtestos pioram avaliação de políticosNo momento mais tenso do conflito, que durou cerca de uma hora, os manifestantes não recuaram e começaram a disparar fogos de artifício e pedras contra os policiais. O cenário era caótico. Homens encapuzados tentaram fazer barricadas com fogo para impedir o avanço dos policiais. Tudo aconteceu entre dois postos de gasolina. Ignorando os riscos de explosão, policiais continuaram a jogar bombas e os manifestantes, fogos.
Os jornalistas que faziam a cobertura do protesto ficaram encurralados em dos postos de combustível. Aos gritos, um policial ameaçou os profissionais. “Quem ficar aqui vai morrer!”, repetia o PM. De outro lado, pessoas passavam mal. Uma mulher com o filho no colo chorava muito.
Com as mãos para o alto, um policial do alto comando do choque pediu para os manifestantes destacarem um negociador, mas não houve trégua. O grupo se dispersou somente por volta das 19h30, por efeito das bombas que deixaram as pessoas sem conseguir respirar nem enxergar.
Ao fim da partida, o clima era pacífico nas ruas que cercam o Maracanã. Um conflito isolado ocorreu na Rua Moraes e Silva, onde três bombas explodiram. Entre os manifestantes, a maioria protestava contra a realização da Copa do Mundo no país e contra a concessão do Maracanã para a iniciativa privada. Havia algumas pessoas com bandeiras do PSTU e do PCdoB, que não foram ameaçadas, como ocorreu em atos anteriores.
A polícia apreendeu 17 coquetéis molotov, sete deles com um único manifestante. Em uma rede social, o major Ivan Blaz, relações-públicas da PM, afirmou que a corporação tentou negociar, mas em vão. “Não houve possibilidade de negociação, eles se recusam a negociar”, enfatizou. Cerca de 7 mil homens das polícias participaram da operação. Segundo a PM, pelo menos oito pessoas ficaram feridas.
Dentro do estádio, torcedores relataram ter sentido irritação nos olhos, provocada pelo uso de sprays de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo por policiais na área externa do Maracanã. Por volta dos 30 minutos do primeiro tempo do jogo, o público começou a reclamar de incômodo nos olhos. “Já estávamos sentindo algo estranho na arquibancada. Quando fui ao bar do estádio, mais próximo da área externa, meu olho ardeu muito, queimou”, relatou o advogado André Pinheiro, 34 anos. (Colaborou Amanda Almeida)