O homem que desafiou o regime militar e abriu as portas das igrejas do ABC para os trabalhadores em greve no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980 - quando era bispo de Santo André -, d. Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, defendeu as manifestações que tomaram as ruas do país. “Aqueles que não se sentem ouvidos precisam mesmo ir para as ruas”, disse. “O que estamos presenciando é uma forma de realidade muito bonita.”
Hummes afirmou que é preciso “aprender a lidar” com esses eventos. “Nem os sindicatos nem o governo estão sabendo lidar com isso”, pontuou, citando a pesquisa do Datafolha - que mostrou queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff (PT), de 57% para 30% - como prova de que as autoridades não estão sabendo responder corretamente os clamores dos manifestantes. “Isso é eficaz. A sociedade conseguiu se expressar e está obtendo muitas vitórias. É muito bom”, disse.
Ele condenou, entretanto, a violência e o vandalismo nas manifestações. “É um custo social. Sempre tem quem aproveite a oportunidade. E a polícia, a segurança pública têm de aprender a lidar com isso também. Enfim, é uma escola: com o tempo, todos vão aprendendo a lidar com esse fenômeno novo, que veio para ficar e para somar com a democracia”, afirmou.
“O Estado não pode pretender que a sociedade esteja a serviço dele. O Estado é que está a serviço de um povo.” O cardeal também disse que a “revolução” contida nos Evangelhos “não contradiz esse tipo de fenômeno”. “A mensagem de Cristo tem tudo a ver com essa reivindicação do povo. Por isso temos de estar presentes. Na rua a gente evangeliza de fato.”