É grande o desconforto entre alguns deputados federais mineiros, de orientação evangélica, para debater e apreciar o projeto de decreto legislativo apelidado de "cura gay", em meio à efervescência social do movimento das ruas, que levantou a bandeira contra a proposta, considerada preconceituosa e homofóbica. A matéria será encaminhada nesta terça-feira, em reunião do colégio de líderes, pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), para a votação em regime de urgência amanhã em plenário.
"Ainda não li esse projeto, desconheço que inclua a expressão cura gay, que inclusive é pejorativa. Mas como presidente da Comissão de Legislação Participativa, que trata de temas afins aos direitos humanos, prefiro ficar como magistrado nesse debate e só me manifestar em plenário", disse ontem o deputado federal Lincoln Portela (PR-MG), que é pastor da Igreja Batista Solidária.
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Único a vir a público e defender abertamente a proposta, o deputado federal Dr. Grillo (PSL-MG), que tem o apoio da Igreja Internacional da Graça de Deus, sustenta: "Para começar, esse projeto não se chama cura gay. Homossexualismo não é doença. O que acho vergonhoso é o Conselho Federal de Psicologia proibir a assistência a homossexuais que têm questões para trabalhar de foro íntimo", disse. Segundo Dr. Grillo, há grande preconceito do conselho em relação a psicólogos de orientação cristã. "O conselho está cerceando a atuação desses profissionais. O projeto é importante porque susta uma resolução que proíbe esse tratamento", acrescentou.