Brasília – Em resposta aos protestos que explodiram pelo país há três semanas e com uma queda recorde de sua popularidade, a presidente Dilma Rousseff promoveu ontem uma reunião com a equipe ministerial. Por mais de cinco horas, na Granja do Torto, residência oficial de campo da Presidência, eles discutiram principalmente a reforma política em gestação. O Planalto encaminha hoje ao Congresso Nacional mensagem com sugestões de temas a serem decididos em plebiscito pela população, como financiamento das campanhas eleitorais. Apesar do otimismo de integrantes do governo em relação à iniciativa, deputados e senadores, inclusive da base, demonstram que não será fácil levar o assunto adiante. Há uma insatisfação de parte dos parlamentares sobre como o tema foi tratado com o Congresso. Dilma gostaria de ver as mudanças políticas valendo já nas eleições de 2014, apesar de admitir que não cabe ao Executivo a definição de prazos nesse caso.
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No que depender da oposição, as sugestões da presidente Dilma Rousseff sobre a formulação de um plebiscito para a reforma política não terão acolhimento no Congresso. "Dilma quer claramente retirar a crise do colo dela e focar no rumo do Congresso. Ela tem todo o direito de fazer as sugestões que quiser, e o Congresso fará o que julgar a sua obrigação, dentro do prazo e debates possíveis e necessários", analisa José Agripino, líder do Democratas no Senado e presidente nacional da legenda.
Colega de partido de Agripino e líder da legenda na Câmara, Ronaldo Caiado lembra que o governo tem maioria no Poder Legislativo para aprovar o que bem entender. "Lula e Dilma só priorizam a reforma política em momentos de escândalos, quando o governo está escanteado. Foi assim no caso dos mensaleiros e agora com a movimentação das ruas. Eles têm maioria para aprovar, mas não dão prioridade", sustenta o deputado.
Para David Fleischer, cientista político e professor da Universidade de Brasília, a melhor forma de realizar a reforma política seria fazer um levantamento de projetos de lei e propostas de emenda à Constituição já existentes e tentar aprová-los. "Mas não sei se o Congresso tem cabeça ou capacidade para fazer isso, neste momento", analisa. Para o especialista, Dilma ainda não conseguiu achar uma saída honrosa para a crise. "Muitas coisas levarão semanas ou meses para serem decididas", diz. Ele lembra que, mesmo que o plebiscito seja feito, "é apenas uma consulta, depois o Congresso pode fazer o que quiser com os resultados".