O Congresso iniciou a limpeza da pauta de vetos presidenciais como mais uma reação à interferência do Palácio do Planalto no Poder Legislativo. Nessa quarta-feira, 1.478 vetos foram declarados prejudicados pelos deputados e senadores por já terem perdido o efeito prático. O poder explosivo está em parte dos cerca de 1,6 mil vetos que ainda serão analisados, que têm repercussão nos gastos da União e alteram decisões de políticas públicas do governo.
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Ministro pede manutenção dos vetos do governo à Medida Provisória dos PortosJucá defende critérios políticos para votação de vetosIdeli Salvatti disse que governo vê com preocupação derrubada de vetosNovela dos vetos presidenciais ameaça paralisar pauta de votaçõesLíderes do Congresso fecham acordo sobre projeto de apreciação de vetos presidenciaisCongresso vota projeto para incluir autoridades na malha fina da Receita FederalAlém de votar os vetos atrasados – alguns aguardam análise há mais de 10 anos –, líderes partidários da oposição e da base, em reunião antes da sessão do Congresso de ontem, cobraram de Renan a votação de uma resolução já aprovada na Câmara que altera o rito de tramitação desses atos. De acordo com o texto, os vetos travam a pauta do Congresso 30 dias após serem recebidos. Atualmente, eles trancam as votações na Casa 30 dias após serem lidos no plenário, o que não ocorre sistematicamente.
“Enquanto o Senado não aprovar as regras de votação, estamos propondo à oposição que não votemos nada no Congresso”, disse o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR). Ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Advocacia-Geral da União (AGU) alegou que a derrubada de vetos antigos causaria um prejuízo de R$ 470 bilhões aos cofres públicos.
Para o líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), a análise de vetos vai alterar a dinâmica do Congresso. “Muda substancialmente o respeito do Executivo pelo Legislativo. Vai acabar com esse negócio de acordo para votar sem o compromisso da sanção da presidente. Afinal, o veto poderá ser derrubado”, avalia.
O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), discorda: “Não muda praticamente nada (na relação entre Planalto e Congresso). O que vai fazer é estabelecer um rito que vai ser importante para o Congresso. Não se trata de melhorar ou piorar”. Ele diz que a base se unirá para não votar temas que provoquem desequilíbrio nas contas públicas, como o fim do fator previdenciário.
“Cura gay”
Menos de 24 horas depois de arquivado pelo plenário da Câmara, o projeto que autoriza psicólogos a promoverem a cura da homossexualidade foi reapresentado nessa quarta-feira. Apelidado de “cura gay”, o texto foi contestado por manifestantes que saíram às ruas em todo o país. Insatisfeito com a forma com que o projeto tramitou e baseado na ressalva de que a proposta pode ser novamente apreciada pelo plenário, o deputado Anderson Ferreira (PR-PE) reapresentou o texto no início da tarde de ontem. O regimento interno da Câmara prevê que propostas retiradas, como foi o caso “cura gay”, não podem ser apresentadas na mesma sessão legislativa, ou seja, este ano, salvo deliberação do plenário.