Brasília – O prazo do 5 de outubro estipulado pela legislação eleitoral e adotado pela presidente Dilma Rousseff para que se emplaque uma reforma política com efeitos sobre as eleições de 2014 também pode ser entendido como um limite para a petista reconstruir o caminho para viabilizar seu nome como candidata à reeleição no próximo ano. Na prática, Dilma tem uma sequência de tarefas a cumprir nos próximos 90 dias se quiser recuperar o favoritismo com que contava no início do ano para a disputa pelo Palácio do Planalto.
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Dilma telefona para Haddad prestando solidariedadeDilma rejeita entregar ministérios de "porteira fechada"Dilma perdeu oportunidade de usar capital político, diz Marina SilvaA ausência de uma resposta satisfatória para os movimentos que tomaram o país desde o mês passado é hoje um dos principais obstáculos a serem superados pela presidente. Até o momento, a estratégia adotada com a proposta do plebiscito para validar a reforma política não só falhou em atender às demandas dos manifestantes como ainda agravou o abismo criado entre o Planalto e a base de sustentação do governo no Congresso. A maior parte das legendas aliadas se levantou contra a possibilidade de uma reforma que altere as regras do jogo para 2014, o que levou um constrangido vice-presidente Michel Temer a declarar a proposta enterrada, apenas para horas depois reafirmar a disposição do governo em trabalhar pelas mudanças valendo, sim, para o próximo ano.
Alçado, durante a semana passada, à posição de um dos principais articuladores entre governo e Legislativo no debate sobre o plebiscito, Temer não foi chamado para a reunião entre presidente e ministros que, no sábado, discutiu a consulta popular e os rumores sobre uma iminente reforma ministerial. O fato não passou despercebido pela cúpula do PMDB, legenda do vice-presidente. “A impressão que dá é que a presidente, em vez de jogar para aproximar, está decidida a escantear ainda mais o partido”, critica um cacique peemedebista irritado com a postura de Dilma. O atrito entre a presidente e o PMDB é o ponto mais grave do segundo obstáculo que a presidente terá de superar: a desarrumação da base aliada.
Foi esse o sentido do apelo que Dilma fez, na semana passada, à bancada do PT na Câmara. Líder da legenda na Casa, o deputado cearense José Guimarães admitiu em público que “a viola desafinou” na articulação política entre governo e partidos aliados. Nos bastidores, os motivos mais citados são as dificuldades de relacionamento com a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e a ação de caciques do PMDB apontados como “sabotadores” dentro da base: o líder da sigla na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), mais os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e do Senado, Renan Calheiros (AL). Isolar o fogo amigo que parte de dentro do PMDB é mais uma meta para a presidente cumprir até outubro, sob pena de perder ainda mais terreno dentro do Congresso.
No Planalto, o entendimento é que o principal combustível para as insurreições dentro da base aliada é a perda de popularidade da presidente diante da onda de manifestações. Sob o impacto dos protestos, a sustentação de uma aliança pela reeleição de Dilma se desmancha a olhos vistos, o que faz da reversão da queda vertiginosa que tem sofrido nas pesquisas uma das principais tarefas que a presidente terá de cumprir.
Para tanto, a tão desejada resposta às ruas deverá vir acompanhada de uma guinada na condução da economia que garanta a reconquista da confiança do mercado. Os rumores na Esplanada já apontam para uma mudança iminente na composição da equipe ministerial, sobretudo na área econômica, onde o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sofre uma crise de credibilidade, mas também no núcleo político, onde Ideli Salvatti é o nome mais cotado para deixar o governo. Dilma, contudo, veio a público no sábado para afirmar que não fará alterações em sua equipe tão cedo, o que deixa uma janela para que a reforma ministerial seja realizada apenas para cumprir o prazo de desincompatibilização dos ministros que disputarão cargos em 2014.
OS OBSTÁCULOS DE DILMA
1- Dar uma resposta satisfatória para as ruas
2- Rearrumar a base
3- Isolar os sabotadores
4- Reverter a queda na popularidade
5- Consolidar-se como presidente candidata
6- Ganhar a confiança do mercado
7- Aproximar-se dos movimentos sociais
8- Abrir diálogo com governadores e prefeitos
9- Criar uma marca para seu governo
10- Tocar a reforma ministerial