Jornal Estado de Minas

Vereadores de BH não voltam ao trabalho após desocupação da Câmara

Câmara de BH amanheceu sem os jovens que ficaram uma semana protestando contra o preço da passagem de ônibus

Alice Maciel Guilherme Paranaiba
Funcionários da Câmara Municipal passaram parte do dia limpando jardins, vidros e paredes do prédio ocupado pelos manifestantes - Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press

A Câmara Municipal de Belo Horizonte foi desocupada no último domingo, mas os vereadores continuaram longe da Casa. Um dia depois de os manifestantes terem deixado a sede do Legislativo da capital, a reportagem encontrou somente cinco dos 41 parlamentares em seus gabinetes, por volta das 15h. Apesar de já terem anunciado o recesso, desde sábado, quando os jovens tomaram conta do saguão, as férias oficiais dos vereadores só começam na sexta-feira. Marcada por oito dias de assembleias, debates e oficinas, a sede da Câmara voltou ontem ao normal. No lugar dos colchões, o velho sofá, e no que foi foi ocupado pela comissão de comunicação dos manifestantes, a atendente. 

As marcas da ocupação – como a pintura feita na calçada com o nome do movimento Assembleia Popular Horizontal e as frases de protesto escritas nas paredes dos banheiros – foram sendo retiradas aos poucos durante o dia. Logo pela manhã, os funcionários da Casa tomaram o lugar da comissão da limpeza dos manifestantes e deram continuidade à faxina iniciada no domingo pelos jovens. Os seguranças, antes de prontidão no saguão, voltaram aos corredores: “Vocês tinham de mostrar que conseguimos fazer a segurança da Casa, nada foi estragado”, pediu um dos seguranças à reportagem. Outro elogiou os manifestantes: “Todos foram educados e a convivência ocorreu de forma bem tranquila durante esses oito dias. Foi uma ocupação muito pacífica”.


Se os funcionários tentam voltar à rotina, a maioria dos vereadores permanece distante da Casa. Os que foram encontrados ontem pela reportagem reclamaram da dificuldade de trabalhar durante os dias em que a Câmara esteve ocupada. “Às vezes a internet era desligada. A gente não podia fazer atendimento ao público, nossos funcionários estavam com medo de vir trabalhar”, afirmou o vereador Marcelo Aro (PHS). “Eu tive que fazer atendimentos fora da Casa”, fez coro o vereador Sérgio Fernando (PV). Já o vereador Dr. Nilton (PSB) acredita que a ocupação prejudicou as pessoas que usam os serviços da Câmara, como o restaurante popular, que ficou fechado. Os serviços que não dependem dos vereadores voltaram a funcionar normalmente, como o próprio restaurante e o posto do Sistema Nacional de Emprego (Sine).


Funcionário limpa os vidros de uma das portarias da Câmara - Foto: Edésio Ferreira/EM/ D.A PressNo domingo, depois de oito dias ocupando o saguão principal e o jardim na entrada da Câmara, os manifestantes começaram a levantar acampamento. Tudo começou em 29 de junho, um sábado, quando os vereadores se reuniram em caráter extraordinário para votar a redução de R$ 0,05 da tarifa de ônibus proposta pela prefeitura. Os manifestantes reivindicaram a revogação do último reajuste dos ônibus em BH, que elevou a passagem de R$ 2,65 para R$ 2,80, além da abertura das planilhas de custo do sistema de transporte público.


Segundo os participantes do protesto, a partir de hoje seguem as ações previstas pelo grupo, como panfletagens em estações de metrô e pontos de ônibus. Além disso, no próximo sábado está marcada uma nova reunião da Assembleia Popular Horizontal sob o Viaduto Santa Tereza, Bairro Floresta, Região Leste da capital. Os vereadores só voltam a trabalhar em 1º de agosto, quando acaba o recesso parlamentar.

Enquanto isso...

...Vereador detido

O vereador Arnaldo Godoy (PT) foi ontem à delegacia do Bairro Caiçara, Região Noroeste da capital, dar queixa do roubo de seu carro e acabou detido. Ele foi informado pelo delegado que havia em seu nome um mandado de prisão desde 2001 por não pagamento de pensão alimentícia. O petista explicou que quando era secretário de Cultura, em 1999, a pensão da sua filha, hoje com 24 anos, era descontada do contracheque. “Em março de 2000 virei vereador, achei que também seria descontado do salário automaticamente”, contou. No entanto, isso não aconteceu e, segundo ele, sem saber, ficou oito meses sem pagar o benefício à filha até que a ex-mulher foi reclamar na Justiça, em 2001. Na época, Godoy quitou toda a dívida, mas o mandado ficou em aberto. “O mais curioso é que eu fui eleito em 2000, reeleito em 2004, 2008 e 2012 e nunca tive problemas com a polícia”, afirmou. Segundo o vereador, o juiz deu baixa no mandado ontem por volta das 16h, depois de ele ter comprovado o pagamento da pensão alimentícia.