Jornal Estado de Minas

Dilma reza para superar desgaste

Presidente recebe evangélicos liderados pelo titular da Pesca, ameaçado de perder o cargo em caso de mudanças na equipe

Karla Correia Juliana Braga Leandro Kleber
Crivella e mais 15 evangélicos oraram com a presidente Dilma e ministros para "vencer momento difícil" - Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Em meio à crise no relacionamento com sua base de sustentação no Congresso, o governo tem descartado a redução do número de ministérios como medida para enxugar gastos públicos. A medida, defendida pelo PMDB – e nos bastidores, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – como uma sinalização de austeridade, é rechaçada dentro do Palácio do Planalto para não acirrar ainda mais os ânimos dos aliados que têm cargos na Esplanada. Ainda assim, mudanças na equipe são projetadas para agosto.


Um dos mais prováveis candidatos a ser rifado em uma reforma ministerial esteve ontem no Palácio do Planalto para dar uma demonstração de força. O ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), liderou uma comitiva de 16 evangélicos em uma visita à presidente Dilma. Lá estava, entre outros convidados, a bispa Sônia Hernandes, mulher de Estevão Hernandes, fundador da Igreja Apostólica Renascer em Cristo. O casal cumpriu pena de quase seis meses de prisão nos Estados Unidos por entrar naquele país com mais de US$ 50 mil não declarados. Também participaram da audiência artistas gospel, como Mara Maravilha e Damares. Houve oração e cantoria. Ao deixar o Palácio do Planalto, Damares disse que Dilma cantou com o grupo e que as orações foram feitas por causa do “momento de muita pressão que o Brasil está vivendo”.

Marcelo Crivella, que é pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, disse que a presidente “adorou” o encontro. Sobre a possível reforma ministerial, o ministro da Pesca saiu tranquilo. “Deixar de ser ministro significa voltar a ocupar o honroso cargo de senador da República. Agora, a presidente Dilma, em nenhum momento, deixou passar que isso ocorreria”, disse Crivella.

Em tese, o governo teria condições para aglutinar pastas na área social e na infraestrutura. Na primeira, secretarias com status de ministério, como a de Direitos Humanos e a de Políticas para Mulheres, poderiam ser absorvidas pela Secretaria Geral da Presidência, comandada pelo ministro Gilberto Carvalho, responsável pela interlocução com os movimentos sociais. O próprio Carvalho, contudo, tem se mostrado avesso à hipótese, por considerá-la um retrocesso em relação ao governo Lula. Ainda mais neste momento, em que o governo busca se aproximar da sociedade civil organizada. No setor de infraestrutura, por sua vez, a incorporação das secretarias de Aviação Civil e de Portos pelo Ministério dos Transportes teria o condão de desalojar vagas do PMDB — já bastante agastado com o Planalto — e do PSB. “Não tem como tirar vagas de aliados em um momento desses”, sentencia um auxiliar da presidente Dilma Rousseff.

Cortar cargos de aliados pode pôr em risco uma delicada relação política em um momento crucial para as pretensões do governo em relação a projetos considerados essenciais, que tramitam no Congresso, como a medida provisória que criou o Programa Mais Médicos, o texto que destina 75% dos royalties do petróleo do pré-sal à educação e 25% à saúde e projetos que podem acelerar obras na área do transporte público, o estopim das grandes manifestações populares que começaram no mês passado. O próprio governo estima que os protestos devem ganhar nova força na visita do papa Francisco ao Brasil, no fim do mês, e nas comemorações do Sete de Setembro.

A hesitação do governo diante de uma reforma ministerial que reduza o tamanho da máquina pública se dá mesmo com o discurso do PMDB em defesa de uma reordenação na Esplanada. A bancada do maior partido na Câmara chegou a soltar nota pedindo a Dilma que reduza o número de pastas, sacrificando, inclusive, cargos que hoje estão nas mãos de peemedebistas. O presidente em exercício da legenda, Valdir Raupp (RO), diz que bate há muito tempo nessa tecla e que o grande número de pastas não se traduz, necessariamente, em melhor gestão. “A média no mundo é de 14 ministérios, não costuma passar de 20. Na China, um dos países com maior número de pastas, são 24”, explica. Segundo ele, o problema está atrelado ao enorme número de partidos que apoiam a aliança PT-PMDB. Raupp acredita que Dilma deveria aproveitar o momento, já que uma parte significativa do governo deve se afastar para concorrer nas eleições de 2014, e promover logo as mudanças necessárias. “É uma grande oportunidade para a presidente mostrar, mais uma vez, austeridade”, sentencia.