Uma das principais medidas anunciadas pelo Planalto em meio à crise política desencadeada com as manifestações populares divide a população. Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes/Instituto MDA revela que 49,7% dos brasileiros são a favor da importação de médicos estrangeiros, mas 47,4% estão contra – a margem de erro do levantamento é de 2,2%. Foram ouvidas 2.002 pessoas em 134 municípios entre os dias 7 e 10. O levantamento também mostrou uma queda na avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff. O percentual de pessoas que avaliavam a gestão como boa ou ótima despencou 22,9%, passando de 54,2% em junho para 31,3%. Além disso, a avaliação negativa aumentou para 29,5%, muito maior do que os 9% registrados na sondagem anterior.
O ex-ministro da Saúde e ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) também não poupou o programa de críticas. Segundo ele, se a presidente estivesse mesmo interessada em resolver o problema da saúde, começaria a pagar os salários de R$ 10 mil mais ajuda de custo aos formandos imediatamente, e não só em 2018. “A ideia não é fazer nada, é jogar no virtual, na propaganda”, alfineta.
A divisão na sociedade em relação a uma das principais respostas de Dilma à crise, a importação de médicos, não surpreendeu os petistas. O líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI), acredita que o problema é a falta de compreensão a respeito da proposta. “Se nós tivéssemos colocado de forma didática, correta, o entendimento seria maior”, afirma.
Já o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, afirmou que essa é uma medida da qual o governo não abre mão e criticou a metodologia da pesquisa. “Nossa proposta é oferecer aos médicos brasileiros irem para o interior onde falta médico e, se não houver, contratar estrangeiros. A pergunta não foi feita assim, mas de qualquer forma, mesmo assim, a população apoia”, avaliou. “Não podemos chegar a um momento deste na história do Brasil e em 700 cidades do país, em qualquer urgência, não ter médico para atender. Não precisa ser assim. Vamos lutar até o fim para que não seja assim”, sustentou.
O levantamento também mostrou que 24,6% dos entrevistas avaliaram a resposta de Dilma à crise como boa ou ótima, frente a 30,7% que acharam ruim ou péssima. Além da queda na avaliação do governo, foi verificada uma redução na aprovação pessoal de Dilma Rousseff. Caiu de 73,7% para 49,3% o percentual dos que apoiam – já a desaprovação está em 47,3%. Já desaprovação subiu de 20,4% para 47,3%.
Disputa presidencial
A pesquisa de intenção de votos também mostrou um cenário de incerteza para Dilma. Na estimulada, a presidente aparece com 33,4%, seguida por Marina Silva (sem partido) com 20,7%, Aécio Neves (PSDB) com 15,2% e Eduardo Campos (PSB), 17,9%. Em todas as simulações, a presidente não escaparia de um segundo turno. Quando questionados sobre a presidente, 44,7% afirmaram que nunca votariam em Dilma, o maior percentual entre os presidenciáveis. Com relação a Aécio, 36% responderam da mesma forma. Marina Silva e Eduardo Campos tiveram 12,7% e 31,9% de rejeição, respectivamente.
Sem comentar a pesquisa, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem, em Ponta Grossa (PR), que o dinheiro arrecadado pelo governo tem de ser devolvido à população. Ela disse ainda que o Brasil é um país especial por dialogar com movimentos sociais e que manterá o Bolsa-Família “enquanto for necessário”. “Eu sou presidente de todos os brasileiros, mas sou presidente com o olho voltado, muito, mas de forma muito intensa, para aqueles que mais precisam”, afirmou. (Colaborou Karla Correia)
Médicos contra tudo
O Programa Mais Médicos, do governo federal, foi alvo ontem de protestos em várias capitais. Em São Paulo, cerca de mil médicos bloquearam avenidas em uma manifestação contra a atuação de profissionais estrangeiros no país sem a revalidação do diploma, contra os vetos ao Ato Médico e contra a medida provisória que exige a atuação dos médicos recém-formados por dois anos na rede pública. Os manifestantes carregavam caixões com as fotos da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. No Rio, cerca de 100 médicos se reuniram na Cinelândia, no Centro da cidade. Com jalecos brancos, eles seguravam cartazes com frases como: “Médicos estrangeiros não. Padrão Fifa para os médicos do Brasil” e “Médicos e pacientes, ambos são vítimas do sistema”. Márcia Rosa, presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro, afirma que “as mudanças colocam em risco a saúde da população, especialmente daqueles que têm mais necessidade de acesso, que utilizam o SUS”.