O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva celebrou as passeatas e os atos que sacodem o Brasil desde junho. “Viva o protesto”, afirmou, nessa quinta-feira, durante palestra para 400 estudantes da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Bernardo do Campo (SP), instituição criada durante o governo dele. “De protesto em protesto a gente vai consertando o telhado”, emendou. Na terça-feira, em artigo publicado no jornal The New York Times, o ex-presidente havia classificado as manifestações como “um tremendo desafio para os partidos e os líderes políticos”.
Lula fez um pedido aos jovens: “Quando vocês estiverem p… da vida, mas p…, não gosto do Lula, não gosto da Dilma, não gosto do Marinho (Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo), ainda assim, não neguem a política", disse ele. E acrescentou: "E muito menos neguem os partidos. Vocês podem fazer outros. Em vez de negar a política, entre você na política”.
Por diversas vezes, o ex-presidente mencionou as manifestações, dizendo, por exemplo, que enquanto a Europa protesta para não perder direitos adquiridos, o Brasil protesta para "conquistar mais". Ele reafirmou seu legado. "É claro que vai ter problema de transporte. O sujeito compra o carro e não consegue andar 10 metros… ‘Vou protestar contra esse prefeito” , ilustrou ele, que estabeleceu um paralelo entre os atos e a trajetória que o levou do sindicalismo ao Palácio do Planalto. “De protesto em protesto, um dia vocês chegarão à Presidência da República”, garantiu.
Lula tratou também da crise internacional atual e criticou a postura da chanceler alemã: "A Angela Merkel conseguiu fazer com a Europa o que duas guerras não fizeram".
Tumor
Após a palestra, Lula negou boatos de que estaria novamente com um tumor. “Não é correto que algum canalha fique na internet falando essas mentiras”, disse. Ele garantiu que jamais mentiria às pessoas se a situação de sua saúde de agravasse. Sites publicaram que o ex-presidente estaria frequentando um hospital de São Paulo durante a noite para se tratar de um câncer. Também circulou a informação de que um dos filhos do ex-presidente teria comprado um avião de R$ 50 milhões e se tornado dirigente de uma gigante da área alimentícia.
Questionado se havia possibilidade de ser candidato, ele respondeu: "Eu elimino (essa possibilidade). Eu tenho candidata à Presidência da República. As pessoas sabem que não adianta bater na minha porta, a presidente Dilma é uma excelente presidente e uma excelente candidata”.
Lula voltou a criticar seus antecessores. “O Brasil sempre teve uma parte da elite dirigente que tinha complexo de vira-lata. O que me incomodava na gestões anteriores era a subserviência do Brasil em relação aos Estados Unidos. Os Estados Unidos se comportavam como o xerife do mundo, e a União Europeia como delegada do planeta”, afirmou. Ele citou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) como um governante que se curvou aos Estados Unidos. “Quem era mais amigo do Bill Clinton, Fernando Henrique ou (Carlos) Menem? Quem era mais amigo do Banco Central americano, o (Domingo) Cavallo ou o (Pedro) Malan? É aquele coisa de gente pobre de espírito, ou seja, quem era o serviçal mais importante?”, atacou.