O consultor em marketing político e professor da USP Gaudêncio Torquato aponta outro obstáculo: “Nós não temos uma cultura na área de doação pela internet. Apesar de termos uma massa bastante volumosa de internautas, esse tipo de doação ainda é visto com muita desconfiança. Se ela (Marina) esperar por isso, vai morrer na praia.”
Para o especialista em marketing digital Gabriel Rossi, a rejeição à classe política que resultou na onda de manifestações de junho pode dificultar ainda mais colocar em prática esse tipo de arrecadação. “Com esse divórcio entre política e sociedade, fica muito difícil uma pessoa física querer doar dinheiro.” Nesse cenário, no entanto, Rossi acredita que Marina pode ser a grande beneficiada, pois ela teria conseguido se afastar da imagem dos políticos tradicionais. “Talvez ela seja hoje a figura que mais tenha tendência de receber doação de pessoa física”, afirma.
Doações
Militantes da Rede defenderam esta semana que o partido não receba doações de bancos e empreiteiras. O partido em gestação já proíbe, em seu estatuto preliminar, recebimento de dinheiro de fabricantes de bebidas alcoólicas, cigarros, armas e agrotóxicos. Marina disse que o debate vai ser aprofundado até o ano que vem, mas admitiu a possibilidade de a Rede só aceitar doações de pessoas físicas numa eventual campanha presidencial.
Em 2010, no entanto, a maior parte dos R$ 24,1 milhões arrecadados por Marina vieram de pessoas jurídicas. Só o vice na sua chapa, o empresário Guilherme Leal, da Natura, doou R$ 12 milhões. Pela internet, a ex-ministra conseguiu arrecadar apenas R$ 170 mil de doações de pessoas físicas nos 58 dias em que um site ficou no ar.
Na época, o curto período que se teve para conseguir levantar esses recursos foi apontado como um obstáculo para obter resultados mais efetivos. A comparação foi feita com as campanhas nos Estados Unidos, que costumam ter duração de mais de um ano, enquanto as brasileiras consomem poucos meses.
Nas eleições municipais do ano passado, a arrecadação de doações pela internet não empolgou quem disputou o pleito. Em São Paulo, os dois principais candidatos - Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB) - abriram mão de usar o recurso por avaliarem a relação “custo-benefício”.
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