Jornal Estado de Minas

Pimenta da Veiga cobra coerência de Serra

Ex-ministro diz que paulista está fora do páreo, mas pode ser relevante na campanha de Aécio

Juliana Cipriani
- Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press
O ex-ministro e ex-prefeito Pimenta da Veiga (PSDB) está de volta à política mineira. Aos 66 anos, 15 dos quais esteve afastado da política no estado, o tucano está de mudança para Belo Horizonte, onde assume a pré-campanha do senador Aécio Neves ao Palácio do Planalto. Ele volta de Brasília, onde passou os últimos anos advogando em casos nos tribunais superiores. Em entrevista ao Estado de Minas, o político colocou a candidatura do senador mineiro como definitiva e cobrou a participação do ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) no trabalho para eleger o colega de partido. Sugeriu até que Serra concorra ao Senado. Além dos convites dos pares, que o vinham estimulando a voltar à lida, Pimenta da Veiga disse que as manifestações das ruas, com a perspectiva de um novo momento para o país, o levaram a voltar. Ele nega ter pretensões de concorrer ao governo do estado, embora seu nome já seja cogitado por aliados. Pimenta da Veiga diz que a gestão do PT fez o país desperdiçar seus últimos 10 anos. Para ele, é o momento de o PSDB voltar ao poder e Aécio é o nome para isso.

 

O senhor já tem uma estratégia para a campanha do senador Aécio Neves à Presidência?
O trabalho principal que vou executar em Minas é ajudar a coordenar esta fase pré-eleitoral e isso é muito prazeroso para mim porque quero muito me integrar a esse movimento de Minas Gerais, que está abrindo tantas esperanças no Brasil. A candidatura de Aécio Neves está criando em muitos lugares um clima de esperança e otimismo e eu quero trabalhar para que, aqui em Minas, ele possa ter uma vitória histórica. A grande margem de votos que ele pode ter aqui tem dois aspectos: primeiro que pode consolidar uma vitória em todo o país e de outra parte estimula outros estados a seguirem conosco vendo o amplo apoio que ele tem onde governou.

Quando vemos o senhor já se integrando à campanha, isso quer dizer que o Serra está fora mesmo?
Sim, não há dúvida de que a posição amplamente majoritária do partido é a favor da candidatura do senador Aécio Neves. Esperamos que daqui até a escolha na convenção o partido esteja absolutamente unido em torno desse objetivo, porque é a maneira de o PSDB voltar ao governo e novamente trabalhar pela modernização do Estado, pela estabilidade monetária e pelos grandes avanços sociais de que o Brasil está em busca.

O senhor acha que Serra fará campanha para Aécio ou sairá do partido?
O ex-governador José Serra é um homem experimentado, está há muitos anos na política, já viveu situações adversas e sabe que há algo que é essencial na vida pública: a coerência. Ele não tem nenhuma razão política para pensar em outro destino partidário que não seja o PSDB. Por isso creio que ele permanecerá e acho que pode ter inclusive uma posição de relevo na campanha. Acho que ficaria muito bem ao ex-governador José Serra ser, por exemplo, o próximo senador por São Paulo. Mas seja esse ou outro caminho, suas atitudes serão respeitadas e compreendidas por nós.

Como é fazer campanha para o Aécio em Minas, onde ele tem uma grande aprovação? A estratégia é diferente no resto do Brasil?
Não há dúvida de que aqui todos o conhecem e ele tem uma consolidada liderança política, mas é importante animar as pessoas, porque uma campanha eleitoral é sobretudo o entusiasmo das pessoas. Portanto, não obstante toda a liderança dele, é preciso que as pessoas estejam firmemente estimuladas a não apenas dar o voto mas também a falar com outras pessoas, a se mobilizar a favor da sua candidatura, compreendendo que isso será de grande importância para o futuro do Brasil, mas de especial importância para Minas Gerais. O nosso trabalho será este: fazer com que a votação seja a mais ampla possível e que isso não dependa da presença constante do senador Aécio Neves na campanha aqui, porque ele tem que percorrer o país inteiro. É evidente que ele estará em diversas ocasiões, em atos que vamos programar, mas precisamos fazer com que um grupo ao qual eu me integro possa substituí-lo no dia a dia da campanha.

O senhor Arrisca um percentual?
Não vamos ter a petulância de dizer que buscamos determinado número de votos, mas procuraremos ter todos que forem possíveis. Para Minas é muito importante recuperar a Presidência da República. Depois de mais de 50 anos será a primeira vez que um candidato mineiro é eleito presidente, toma posse e exerce o mandato. Portanto, isso nos remete ao período do presidente Juscelino Kubitscheck, que foi um dos melhores momentos da política mineira e do desenvolvimento do estado. Em certa medida, a situação se reproduz agora.

O fato de a presidente Dilma provavelmente explorar o fato de também ser mineira é um dificultador? Como pretendem trabalhar essa questão?
Uma coisa é ter nascido em Minas, outra coisa é ser mineira. O senador Aécio Neves é não apenas a melhor tradição do estado como também devotou toda sua vida a Minas, disputou e venceu muitos mandatos aqui, governou o estado por oito anos. A presidente Dilma, por razões imperativas, conviveu pouco com o estado. Portanto, quando se fala em candidato mineiro é o candidato que não apenas nasceu aqui, mas vive e participa de todas as atividades aqui.

O governador Eduardo Campos também vem sendo apontado como novidade na política. Vocês estão mais preocupados com ele ou com a Dilma? Qual será o principal adversário?
Estamos preocupados em fazer a melhor campanha. Não temos intenção de interferir no comportamento dos concorrentes. O governador Eduardo Campos é um candidato qualificado, com quem temos relações políticas e pessoais e queremos mantê-las, cada um no seu caminho, para nos juntarmos no segundo turno. Consideramos que o candidato mais completo é o senador Aécio Neves. Vamos trabalhar para que ele supere os demais. Vamos trabalhar para fazer uma campanha digna, correta, sem agressões pessoais, para termos um ambiente desejável para uma união no segundo turno com os demais concorrentes.

Para essa candidatura do Aécio ter penetração mesmo com ele percorrendo outros estados é importante ter candidatura própria do PSDB ao governo?
É importante ter um candidato solidário que possa ajudar na campanha, que tenha uma absoluta integração com o candidato presidencial e que consiga estabelecer a mais ampla aliança partidária nessa campanha no estado. Se for do PSDB, evidente que é um fato importante, mas eu diria que as características fundamentais são as que descrevi.
O senhor pode ser esse candidato?
Isso não está sendo considerado. É uma questão que vai ser vista só na época que a lei determina, em meados do ano que vem. Eu só tenho agora um objetivo: é fazer o trabalho pré-eleitoral da candidatura do senador Aécio Neves à Presidência da República e ajudar na movimentação partidária. Ao mesmo tempo que quero me relacionar com os demais partidos para formarmos a mais ampla aliança que for possível e estou inteiramente dedicado a isso.

O senador tem um dilema, que é ter quatro nomes na base para concorrer (o secretário de Ciência e Tecnologia, Nárcio Rodrigues; o deputado federal Marcus Pestana; o presidente da Assembleia, Dinis Pinheiro, e o vice-governador Alberto Pinto Coelho). Se fosse para apaziguar essa situação o senhor aceitaria?
Acho que é muito bom que todos os valores do partido e mesmo da aliança tenham a intenção e possam disputar a candidatura ao governo do estado se manifestem, porque é preciso comparar candidaturas e no final ficar com a mais adequada para o momento. Às vezes uma candidatura por uma razão imediata se fortalece e isso precisa ser visto e considerado. Mas é um assunto que tem que ser visto em meados do ano que vem. Eu não venho com nenhuma pretensão individual. Felizmente o amadurecimento político me permite hoje me dedicar a esse movimento político mineiro que está abrindo as melhores perspectivas, criando esperanças no Mato Grosso, no Ceará, em Santa Catarina e nos mais diversos estados. A questão mineira, estou seguro, será bem conduzida no momento adequado.

O senhor disputou a última eleição há 15 anos, o que acha que mudou no tempo que esteve afastado?
O que notei foi que quando me afastei da vida pública havia algumas circunstâncias que não eram animadoras. Alguns temas que não conseguiam evoluir, prioridades trocadas na administração pública. Agora, o que se vê é que o cidadão quer ser protagonista. As sociedades quando amadurecem dão muito mais espaço a cada cidadão, e o brasileiro começa a compreender isso, está querendo participar e cobrar resultados. Isso abre perspectivas para termos outro cenário, como, por exemplo, na questão educacional, que deve ser vista como prioridade absoluta porque interfere em outros setores. No momento em que o Brasil se voltar por inteiro, fazendo uma cruzada pela educação, em poucos anos será outro país.

O PT não foi capaz de resolver os problemas brasileiros?
Não há dúvida que o PT revela a cada dia uma falta de qualificação para governar o país. Não apenas não está conseguindo manter as conquistas que o Brasil tinha alcançado, como a estabilidade monetária, como perdeu o melhor momento da história econômica, que foi exatamente a década que o PT esteve no poder. Em vez de suprir o Brasil do que mais lhe falta, hostilizou o capital e com isso os investimentos não foram feitos. Nossa infraestrutura está extraordinariamente precária, tornando a vida do brasileiro mais difícil. A falta de mobilidade urbana poderia ter sido resolvida com investimentos que capitais estrangeiros queriam fazer. Mas as ruas estão dizendo que o tempo deles está vencido e algo de novo virá. Esperamos que seja alguma coisa organizada através de pessoas competentes que possam então renovar as esperanças e produzir atos de que o Brasil está precisando. O recado das ruas foi esse. O sistema político que está aí está vencido.