A questão do plebiscito foi apenas o início de uma longa sequência de recuos. Nesta semana, o governo colecionou desencontros. Uma das bandeiras do Programa Mais Médicos, a extensão por mais dois anos do curso de formação em medicina, foi por terra diante da pressão da classe médica, que chegou a promover uma paralisação de dois dias em protesto contra a iniciativa. Pela nova proposta, o médico vai fazer o primeiro ano da residência nas áreas de urgência, emergência e atenção básica do Serviço Único de Saúde (SUS). No segundo ano, poderá se dedicar a uma especialidade.
Mudança de sexo
Além na mudança do Programa Mais Médicos, o Ministério da Saúde foi obrigado a voltar atrás em uma portaria que reduzia a idade mínima para a terapia hormonal e as cirurgias de mudança de sexo em transexuais. A suspensão aconteceu menos de 24 horas depois de a portaria ser publicada no Diário Oficial da União. De acordo com o ministro Alexandre Padilha, o documento foi publicado sem detalhar uma série de procedimentos — como a avaliação dos candidatos à cirurgia e a autorização de pais nos casos de menores de idade — e, por isso, foi suspenso.
Parlamentares governistas veem nas mudanças de rumo do Planalto um sinal de “respeito à democracia”. “Governo democrático é assim: reavalia, propõe e ouve”, defende o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE). “Esse padrão de política que está se colocando nas críticas é um padrão velho. Ao contrário do que acusam, a presidente tem jogo de cintura”, completou o deputado.
O discurso governista não convence a oposição. “O que se vê é uma demonstração clara da falta de preparo no enfrentamento de uma crise séria”, diz o senador José Agripino Maia (DEM-RN). “A presidente Dilma Rousseff, que deveria mostrar as qualidades de gestora neste momento, não está sabendo tomar providências eficazes. Nenhuma das medidas com que buscou responder ao apelo das ruas, até o momento, deu resultado. Ou caiu por terra, ou foi objeto de recuo”, ressalta.