Em 14 de abril de 2010, um dia chuvoso em Salvador, o então pré-candidato oficial à Presidência pelo PSDB, José Serra, visitou a cidade. Foi à sede das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), cumprimentou profissionais de saúde e pacientes, seguiu ao Centro Histórico e, já no início da noite, deu uma entrevista a uma emissora de rádio. À época, focou suas falas nos problemas da saúde pública e disse que a viagem não previa "ato político".
O roteiro foi exatamente o mesmo da visita que o ex-governador paulista fez nesta terça-feira à capital baiana. Mais uma vez, Serra foi recebido com chuva na cidade. Mais uma vez, seguiu do aeroporto direto para a sede das Osid. De novo, cumprimentou médicos, enfermeiros e pacientes e disse que o local era um exemplo a ser seguido. E voltou a criticar a condução da saúde pública no País.
"Saúde se resolve com verbas e investimentos, não com efeito pirotécnico", disparou, ao comentar os recentes programas anunciados pelo governo federal para o setor, especialmente o Mais Médicos.
Depois, foi para o Centro Histórico - desta vez, para uma conversa com o prefeito ACM Neto (DEM), um aliado em potencial, na Prefeitura. E concluiu a viagem com uma entrevista a uma emissora de rádio. À mesma emissora (Rádio Metrópole) e ao mesmo jornalista (o ex-prefeito Mário Kertész) de três anos atrás.
O teor da entrevista também teve ar de reprise: críticas ao governo federal em diversos setores - do chamado loteamento de cargos públicos à segurança pública. "É a coisa da pirotecnia - o governo anuncia isso, anuncia aquilo, não sei quantos bilhões de reais. E cadê?", resumiu.
Como da vez anterior, Serra negou que a visita tivesse caráter eleitoral. Desta vez, porém, deu mais ênfase à questão, criticando fortemente o que chamou de "antecipação exagerada" da campanha. "Falta muito tempo para a eleição", argumentou. "Foi um equívoco antecipar a campanha eleitoral."
Segundo o ex-governador paulista, o debate eleitoral a mais de um ano do pleito "não enche barriga, nem proporciona melhoras ou aponta rumos". "Pelo contrário, (a campanha antecipada) torna o debate superficial", avaliou. "Neste momento, a gente tem de identificar as questões fundamentais."
Perguntado sobre quais seriam, então, seus planos para 2014, Serra brincou, contando que "um dia vai se entrevistar para perguntar isso". "De qualquer forma, estou menos preocupado com o futuro e mais preocupado com o Brasil de hoje", disse. "É preciso que Brasil se reencontre. Estou muito preocupado com a deterioração que vem acontecendo na economia, nas políticas sociais."
Sobre a pré-candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG), ele ressaltou que seu colega de legenda "nunca se colocou oficialmente" como presidenciável. "Ele tem bastante apoio no partido, mas esse ainda não é um assunto cravado dentro do PSDB", disse. Serra também comentou a possibilidade de mudar de legenda. "Não tive convites, mas há simpatias", admitiu. "Na hora que eu tiver um plano, eu anuncio."
Acompanhado pelos dois deputados estaduais do PSDB, Adolfo Viana e Augusto Castro, o ex-governador paulista minimizou a reunião que teve com o prefeito soteropolitano. "Não vim para uma reunião política", desconversou. "É só uma conversa."