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Estado de Minas PÁ DE CAL NA DESIGUALDADE

Córrego Fundo registra a menor diferença entre os mais pobres e os mais ricos em Minas

Pelo menos 80% dos 6 mil habitantes tiram o sustento na indústria de cal


postado em 11/08/2013 07:00 / atualizado em 11/08/2013 08:21

Leonardo Augusto
Enviado especial



Com cerca de 100 empresas do setor de cal, em Córrego Fundo menos de 4% da população recebem o Bolsa-Família(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Com cerca de 100 empresas do setor de cal, em Córrego Fundo menos de 4% da população recebem o Bolsa-Família (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)


Córrego Fundo (MG) –
Dia exclusivo para atendimento à população e a antessala do prefeito da pequena Córrego Fundo, Região Centro-Oeste de Minas, está vazia. A cena tão comum do vaivém de moradores de cidades do interior atrás de emprego, cesta básica ou dinheiro para o pagamento de conta de luz não se observa no município. E tudo por causa da cal. A extração e beneficiamento de pedras para se chegar ao produto é a principal responsável por um importante título para Córrego Fundo: o de cidade mineira com a menor diferença entre mais pobres e mais ricos, segundo o Índice Gini, medido a partir dos dados sobre renda familiar apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Pelo menos 80% da economia do município, de aproximadamente 6 mil habitantes, está relacionada à cal, empregada por exemplo na fabricação de creme dental, tinta, branqueamento de açúcar e purificação de água. Em uma das pontas medidas pelo IBGE está Dilermando dos Reis Vital, de 46 anos. Morador da zona rural, ele trabalha “no forno”, como dizem os habitantes da cidade para se referir aos operários que têm a função de levar ao fogo as pedras que serão transformadas em cal.

'Geralmente não trabalho em dezembro. Deixo o emprego, curto as festas, viajo e depois volto', diz Dilermando dos Reis Vital, operário do %u201Cforno%u201D na indústria de cal(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
'Geralmente não trabalho em dezembro. Deixo o emprego, curto as festas, viajo e depois volto', diz Dilermando dos Reis Vital, operário do %u201Cforno%u201D na indústria de cal (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Dilermando tem casa própria, simples, é verdade, e mora sozinho. “Tenho uma namorada, mas casamento é coisa muito séria”, argumenta. No fim do ano passado, os dois alugaram com parentes por 10 dias uma casa em Cabo Frio, no litoral do Rio de Janeiro. Aliás, dezembro é um mês especial para o operário. “Geralmente não trabalho. Deixo o emprego, curto as festas, viajo e depois volto”, conta. O trabalhador diz que, muitas vezes, retorna para a mesma empresa, sempre depois de receber o seguro-desemprego, sem qualquer mágoa por parte do patrão.

O estilo de vida de Dilermando ajuda a explicar o conjunto de fatores que fizeram de Córrego Fundo a cidade do estado com menor desigualdade social. O município tem população pequena e grande número de empresas na área da cal – aproximadamente 100, conforme dados da prefeitura. A equação resulta em menos gente para o trabalho no setor, o que ajuda a elevar salários e a permitir que Dilermando tenha o luxo de não trabalhar nos fins de ano. As empresas, se quisessem pagar menos, poderiam até tentar contratações na cidade vizinha, Formiga, município com 70 mil habitantes, que fica a 12 quilômetros de distância. Os custos com o transporte, no entanto, poderiam não compensar.

Segundo o prefeito de Córrego Fundo, João Vaz da Silva, o vencimento médio de quem mora na cidade e vive da cal é de três salários mínimos. “E estamos falando do trabalhador braçal, que fica no forno ou quebrando pedras”, ressalva. Pela renda mais elevada, os habitantes da cidade acabam por ter dependência reduzida de programas de assistência social. Conforme dados da prefeitura, 229 famílias da cidade, ou menos de 4%, recebem o Bolsa-Família, sendo que, do total, apenas 141 têm o benefício máximo, de R$ 70 por pessoa, por não terem nenhuma outra renda.

O prefeito João Vaz da Silva comemora a baixa dependência da população aos programas sociais federais(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
O prefeito João Vaz da Silva comemora a baixa dependência da população aos programas sociais federais (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)


Das cerca de 100 empresas do setor de cal em Córrego Fundo, uma pertence a Manoel Petrúcio, de 53 anos, há 35 morador da cidade. Pernambucano de Bom Conselho, trabalhou como operário até que conseguiu montar uma pequena empresa que utilizava fornos chamados “de encosta” para produção de cal. Os negócios cresceram e hoje Petrúcio tem 25 empregados e vende entre 50 e 60 toneladas do pó por mês. Como todo bom empresário, reclama do mercado. “Já tivemos dias melhores, com 100 empregados e o comércio de 120 toneladas de cal por mês”, diz. Ainda assim, roda pela cidade com uma caminhonete último ano e vai com regularidade ao estado natal para ver a família.

Pelos dados da prefeitura, os números de queda citados pelo empresário são extremamente isolados. Em junho, a arrecadação do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) em Córrego Fundo atingiu, no acumulado do semestre, R$ 2,2 milhões. No mesmo período do ano passado, o total foi de R$ 1,7 milhão, uma alta de 29%.

Manoel Petrúcio: de operário a dono do negócio e carro do ano(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Manoel Petrúcio: de operário a dono do negócio e carro do ano (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Com tanto serviço na cidade, mas em área mais restrita a homens, as mulheres de Córrego Fundo deram um jeito de não ficar para trás. Conforme o prefeito, elas vêm incrementando o mercado têxtil do município. “O número de costureiras está crescendo. Isso pode se transformar em mais uma grande fonte de renda em Córrego Fundo”, projeta o prefeito João Vaz. Ao menos por enquanto, pelo menos, o branco intenso da cal será o grande responsável pelos destinos dos córrego-fundenses.

Saiba mais: Índice Gini
Criado pelo matemático italiano Conrado Gini, o índice mede o grau de desigualdade na distribuição da renda domiciliar. Ou seja, aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. O valor pode variar de zero, quando não há desigualdade (as rendas de todos os indivíduos têm o mesmo valor), até 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula). A divulgação é feita a partir do momento em que o IBGE publica os dados de uma nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Córrego Fundo apresentou Índice Gini de 0,3288, enquanto o de Minas é de 0,5634 e o do Brasil, 0,5304, segundo dados relativos a 2010.

 


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