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Estado de Minas

Nota 10 em leitura, zero em educação

Prefeitura de Juiz de Fora, cidade com uma das mais altas médias do estado em livros lidos pela população, fecha bibliotecas das escolas municipais


postado em 16/08/2013 00:12 / atualizado em 16/08/2013 07:56

As 101 escolas municipais de Juiz de Fora, Zona da Mata, estão com suas bibliotecas fechadas, desde que a Secretaria de Educação remanejou professores e bibliotecários para as salas de aula. De acordo com a coordenadora-geral do Sindicato dos Professores, Aparecida de Oliveira Pinto, a estrutura física e o acervo foram mantidos, mas não existe mais a figura dos responsáveis pelos projetos de leitura. Curiosamente, pesquisa sobre hábitos de leitura no interior do estado, realizada entre 10 de março e 20 de junho, a pedido da Câmara Mineira do Livro, mostrou que Juiz de Fora está entre as oito cidades mineira com nota 10 na prática.


O levantamento aponta um índice de 8,14 livros ou trechos de livros lidos nos últimos 12 meses pela população. Isso significa dizer que a cidade atinge mais que o dobro da média nacional, que é de 3,6, e da estadual, de 3,2. “Não basta  ter a chave da biblioteca, é preciso guiar a leitura, orientar os alunos. O nosso projeto está, sim, comprometido, o que nos coloca na contramão do que ocorre hoje no país, quando se se busca educação de qualidade”, diz a coordenadora sindical.

Segundo Aparecida, a medida entrou em vigor no dia 31, com o reinício do ano letivo. Para cumprir a Lei do Piso Nacional dos professores, foi preciso a redução da jornada semanal dos profissionais em sala de aula para 13 horas e 20 minutos semanais. Isso fez com que surgisse a necessidade de mais mestres e essa foi a forma encontrada pelo secretário Weverton Vilas Boas de Castro para fazer a conta fechar. A implantação do piso foi uma reivindicação da categoria, conquistada depois de uma paralisação de 22 dias entre abril e maio.

NOVO USO A Secretaria Municipal de Educação confirma a transferência das bibliotecárias para a sala de aula, mas ameniza, dizendo que as bibliotecas continuam à disposição dos alunos, embora com outra forma de uso. O incentivo à leitura terá que ser feito pelos próprios professores dentro das matérias oferecidas no currículo escolar. A secretaria admitiu também que a alteração foi necessária em razão da redução de cinco minutos módulo/aula do professor.

O agravante é que há bibliotecárias aprovadas em concurso exclusivamente para a função. Em nota, a prefeitura explica que “o Conselho Municipal de Educação aprovou que os professores que atuavam exclusivamente nas práticas de leitura, ou seja, fora das salas de aula, assumissem a regência, fomentando a leitura no dia a dia da escola, garantindo a interdisciplinaridade, sem deixar de atuar nos espaços coletivos, como nas bibliotecas que deverão funcionar como um dos importantes instrumentos de apoio pedagógico”. E acrescenta: “Elas (as bibliotecas) deverão ser utilizadas por professores de todas as disciplinas, sendo um ambiente propício para a ampliação dos conhecimentos de todas as áreas, sempre com incentivo dos educadores”.

Memória

Polêmica literária


Não é a primeira vez que o prefeito de Juiz de Fora, Bruno Siqueira (PMDB), se mete em polêmica envolvendo livros. Em 2011, então deputado estadual, ele apresentou um projeto de lei proibindo o uso nas redes pública e privada de ensino de livros didáticos e literários com conteúdo contrário à norma culta e que tivessem também “teor sexual e incentivos à prática de atos criminosos”. Ou seja, estaria decretado o fim da leitura em sala de aula de um dos maiores escritores mineiros, Guimarães Rosa, que retratou em sua obra a fala popular. O assunto foi explorado pelos seus adversários durante a campanha eleitoral. Siqueira, então, retirou da pauta o projeto, que acabou arquivado.

 


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