O prazo final estipulado pela Justiça Eleitoral para quem deseja trocar de legenda e disputar por outra sigla a eleição de 2014 termina no dia 5 de outubro deste ano. Enquanto o “juiz” não apita o final do jogo, a movimentação política começa a tomar corpo entre os partidos. A revoada foi "oficialmente" deflagrada. Entre os políticos, a ordem é fazer as contas para ver como se eleger com mais facilidade.
"Além dos compromissos políticos, há o instinto de sobrevivência política. As pessoas vão estar onde têm mais chance de se reeleger em 2014", afirmou uma fonte governista em reserva. Os dirigentes partidários defendem ser natural que os partidos se movimentem para fortalecer suas bases. Enquanto o prazo final de filiação não termina, a velha política, com a cooptação de lideranças, se intensifica.
Com uma gestão aprovada e dando sinais de que está disposto a disputar a Presidência da República, o governador Eduardo Campos (PSB) permanece como "garoto propaganda" de seu partido e atraindo as mais diversificadas lideranças. "Não há um movimento de fazer todo mundo ingressar no PSB. Há um movimento de fortalecer o conjunto de partidos que estarão conosco em 2014", enfatizou um líder socialista, em reserva.
Enquanto o quadro político permanece incerto, cresce nos bastidores o tom irônico sobre o troca-troca para reforçar o palanque socialista. "O PSB é um partido único. Esse barco está pesado demais e pode afundar. É como a arca de Noé. Está recolhendo bichos de toda a natureza. O problema é que alguns podem devorar os outros a qualquer momento", advertiu um aliado em reserva.
Na lista dos que podem fazer a travessia para o ninho socialista estão os deputados estaduais do PT André Campos e Odacy Amorim. Já o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB), pode fazer o caminho inverso. Além do PT, ele foi cortejado pelo PMDB para disputar o governo de Pernambuco em 2014.
Potencial candidato ao governo do estado, o senador Armando Monteiro (PTB) pode contabilizar algumas baixas de um lado e por outro atrair novas lideranças. Segundo informações de bastidores, os deputados estaduais Clodoaldo Magalhães e Marcantônio Dourado, ambos petebistas, teriam sido convidados para ingressar no ninho socialista.
Os dois negam a mudança de legenda, mas informações extraoficiais revelam que os prefeitos e políticos da região onde ambos são votados estariam pressionando. No caso de Clodoaldo, dos oito prefeitos que o apoiam, quatro são do PSB (Palmares, Joaquim Nabuco, Água Preta e Xexéu). Partindo do princípio que o senador vai romper com o governador Eduardo Campos, já que o socialista deve lançar candidato, como apoiar um deputado que está no palanque adversário? Clodoaldo garante que tudo não passa de especulação. “Não estou pensando nisso. O momento é de cumprir o mandato”, afirmou.
O deputado federal Roberto Teixeira (PP) esteve prestes a aceitar o convite do PMDB de Pernambuco por causa da relação conflituosa até pouco tempo entre ele e o presidente estadual da legenda, Eduardo da Fonte (PP). O parlamentar garante que, agora, após uma conversa com o senador Ciro Nogueira (PP), a paz foi selada e o partido vai participar da disputa majoritária, tendo Eduardo da Fonte como candidato ao Senado.
Cobrança por uma reforma política
Desde que a regra da infidelidade partidária foi criada em 2007, somente um político brasileiro foi punido até hoje. Em 2008, o então deputado federal paraibano Walter Brito Neto (PRB-PB) perdeu o mandato por ter mudado de legenda - foi eleito pelo DEM. Na avaliação do cientista político Heitor Rocha, apesar do mandato ser popular, no Brasil, isso não funciona dentro desse lógica. "Os mandatos funcionam como patrimônio pessoal dos políticos. Há uma distorção. Na maioria das vezes, os partidos não tem inserção social, nitidez programática ou ideológica, e os políticos usam as legendas de acordo com suas conveniências", condenou.
Para Heitor, o sistema eleitoral brasileiro precisa ser revisto e a reforma política deixar de ser uma utopia. Quanto à fidelidade partidária, ele diz que o problema não é só no Brasil. "Virou folclore. É como algumas leis que são fruto de modas, sendo que umas pegam e outras não. Por outro lado, o Judiciário não cumpre sua missão de fazer com que a lei seja aplicada", criticou.
O cientista político fez, ainda, uma alerta para os políticos sobre as manifestações que eclodiram no país. "A tentativa deles (os políticos) é tentar ganhar tempo para esfriar o clamor das ruas para fazer a reforma de acordo com suas conveniências. Algumas bastilhas precisam cair. Se nada for feito, tudo voltará à tona e com violência", avisou Heitor Cunha.