Jornal Estado de Minas

CUT revê, aos 30 anos, elo com governos petistas

Agência Estado
Principal central sindical do País, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) se imbricou com o PT e o Planalto e, às vésperas de completar 30 anos, é criticada por fundadores que pregam um rompimento para resgatar o DNA original “apartidário” da entidade. O dilema sobre a vinculação sindical com o governo petista tornou-se ainda mais evidente com as manifestações de junho, quando levantaram-se questionamentos sobre a falta de conexão dos movimentos sociais, umbilicalmente ligados ao Planalto, e a sociedade.
A ata de fundação da CUT já registrava esse impasse fundamental entre a central e o Partido dos Trabalhadores. O documento, tido como perdido pelos próprios autores, foi obtido pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação. Lavrada em cartório por Jair Meneguelli, então sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, e por Delúbio Soares, que viria a fazer a ponte entre a tesouraria da CUT e a do PT poucos anos depois, a ata é clara: “A CUT será uma entidade de âmbito nacional, sem caráter partidário”.

Primeiro presidente da entidade, Meneguelli diz que a CUT perdeu uma oportunidade histórica ao não aproveitar a relação com Lula e Dilma Rousseff para fazer avançar suas principais bandeiras. Para o especialista em sindicalismo da Unicamp, também fundador da CUT, Ricardo Antunes, a única saída para a central é o rompimento com o Planalto. “A CUT perdeu quase que completamente suas bases, mas fortaleceu-se enquanto cúpula, e praticamente toda a sua direção foi para o aparelho do Estado nos últimos 10 anos”, afirma.

Cofre cheio

Com 2,2 mil sindicatos e 2,7 milhões de trabalhadores associados, a CUT é a entidade que mais recebe o dinheiro repartido pelo governo. Segundo a entidade, o imposto sindical refere-se a cerca de 65% de seu orçamento anual. Mesmo contrária ao imposto sindical desde a fundação, a central aceitou receber o dinheiro em 2008, quando Lula criou lei permitindo o repasse às centrais, e nos últimos cinco anos, a central abocanhou mais de R$ 270 milhões.

A relação com o PT gerou frutos políticos a lideranças da central. Na ata de fundação há cinco dirigentes que depois deixariam a CUT para seguir carreira partidária nacional. Além de Delúbio, o documento registra a participação de Olívio Dutra (PT-RS), que viria a ser governador do Rio Grande do Sul e ministro das Cidades no governo Lula, Paulo Paim, hoje senador pelo PT-RS, e dos deputados federais pelo PT-SP Arlindo Chinaglia e Vicentinho.

Jorge Lorenzetti, o “churrasqueiro de Lula”, e Osvaldo Bargas, ambos denunciados pela Polícia Federal como organizadores do “esquema dos aloprados”, em 2006, também assinam a ata. Primeiro vice-presidente da CUT no Centro-Oeste, Delúbio foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado por envolvimento no escândalo do mensalão a oito anos e 11 meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa.

Zona de segurança


De acordo com Meneguelli, a CUT não soube manter uma distância segura do partido de seus dirigentes, especialmente após a chegada do PT ao governo federal. Segundo o atual presidente da CUT, Vagner Freitas, o governo Lula mudou completamente a conjuntura social brasileira, e, por isso, a atuação da entidade foi diferente nos últimos anos. “Lula é fruto da luta da CUT, da construção do PT, e ele é o maior exemplo do sindicalismo cutista. Não foi um presidente convencional, como Dilma também não é”, diz Freitas. “Não posso tratar o governo Dilma da mesma forma que o Meneguelli tratou os militares, o Sarney e o Collor, nem como o Vicentinho tratou com FHC. Os tempos são outros.”

“Todos os fundadores da CUT tiveram participação na história do Brasil”, afirma o deputado Vicentinho. “Nascemos em plena ditadura militar e lutamos contra o empresariado conservador. Conseguimos chegar ao poder, e tivemos a chance de fazer o País crescer, com a incorporação de diversas bandeiras da central em forma de políticas públicas.”