O comprovado desgaste da classe política junto ao eleitorado, potencializado após as manifestações que sacudiram o país em junho, levou os partidos a procurar candidatos alternativos para as eleições de 2014. Apesar de não ser um fenômeno recente, a busca por nomes “mais arejados” visa a atrair a simpatia dos brasileiros. Vale convidar atletas, ex-jogadores, cantores e empresários de sucesso — esses últimos, bons para ajudar no financiamento das campanhas.
Em alguns casos, o movimento serve também para suprir a total incompetência dos partidos de criar candidatos competitivos. É o caso do PSDB do Rio de Janeiro, por exemplo. Sem um nome forte para disputar o governo estadual, o partido tentou, em um primeiro momento, filiar o apresentador de televisão Luciano Hulk. Não deu certo. A aposta mais recente é a filiação do treinador da Seleção Brasileira de Vôlei Masculino, Bernardinho, famoso também como palestrante motivacional. Agora, pode ser a alternativa para os tucanos disputarem com um nome palatável o governo fluminense. O problema é que, até o momento, o treinador apenas filiou-se. Ele não deu qualquer garantia se será candidato, mesmo porque as Olimpíadas de 2016 serão disputadas no Rio. Em Minas, os tucanos sondaram o ex-jogador de vôlei Giovane Gávio. Técnico desempregado, ele poderia ser uma alternativa à Câmara.
No samba
No Rio, o PR também está montando uma chapa que considera promissora. A primeira filiação foi a do eterno puxador de samba-enredo Neguinho da Beija-Flor. A aposta é que ele terá uma excelente votação em Nilópolis e em outras cidades da Baixada Fluminense. O partido também, na surdina, tirou Romário do PSB. O deputado fez 180 mil votos nas últimas eleições. A expectativa é que, após quatro anos na Câmara e com uma atuação de destaque na Comissão de Esportes da Casa, ele possa chegar aos 300 mil votos.
Os socialistas, que tiveram relação conturbada com o baixinho — ele sempre ressaltou a ausência de diálogo com o presidente nacional da legenda, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos —, ainda não decidiram se pedirão ou não o mandato de Romário por abandono de partido. Animado com a nova casa, Romário tem até pensado em voos mais altos para 2014. Uma liderança do PR confidenciou que a má fase do governador do Rio, Sérgio Cabral, tem feito o ex-centroavante da Seleção cogitar a hipótese de candidatar-se ao Senado. Há ainda a disposição para disputar a Prefeitura do Rio em 2016.
O PR já havia adotado essa tática na eleição anterior, quando filiou o palhaço Tiririca em 2010 e este foi eleito com mais de 1 milhão de votos, ajudando a eleger outros parlamentares graças ao sistema de coligação. Com atuação discreta no Congresso, alternando momentos de depressão com os rumos da política e outros de elaboração de planos, Tiririca foi blindado recentemente pela direção nacional do PR para alçar voos mais ambiciosos no ano que vem.
No gramado
Esse movimento não é restrito ao Rio de Janeiro. Em São Paulo, o ex-prefeito de São Paulo e presidente de honra do PSD, Gilberto Kassab, mergulhou no universo futebolístico no primeiro semestre. Antes mesmo das manifestações de junho, ele já havia sondado o ex-goleiro do Palmeiras Marcos - que se aposentou no início do ano passado - e até o goleiro do São Paulo Rogério Ceni. Nenhuma das duas conversas evoluiu. Mas nem sempre dá certo. Ídolo do Corinthians, o ex-jogador Marcelinho jamais foi um fenômeno de votos.
O PMDB, partido que se gaba da capilaridade em todo o país, tem buscado privilegiar empresários de destaque ou presidentes de associações para atrair votos e, mais importante, dinheiro para financiar as campanhas. Em Goiás, o partido filiou José Batista Júnior, o Júnior da Friboi — maior empresa de carne bovina do mundo. Em São Paulo, o partido deve lançar o presidente da Federação das Indústrias do estado (Fiesp), Paulo Skaf, embora ainda não haja garantias de que ele tenha votos suficientes para se eleger. O PTB ainda está procurando alternativas no mercado. O partido já filiou o ex-cantor Frank Aguiar.