O diplomata Eduardo Saboia, 46 anos, encarregado de negócios da Embaixada do Brasil na Bolívia e responsável pela fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina, vai ficar afastado das funções enquanto o inquérito aberto para apurar o episódio não for concluído. Na tarde de ontem, o diplomata participou de uma reunião com o secretário-geral do Itamaraty, Eduardo dos Santos, e com o embaixador Antonio Simões. Os nomes dos integrantes da sindicância instaurada não foram divulgados.
Na nota oficial, o Itamaraty ressaltou que só foi informado no sábado de que Roger Pinto estava em território brasileiro. O senador Ricardo Ferraço chegou a criticar a postura do Itamaraty. “Se o ministro Eduardo Saboia for punido, será um equívoco. Ele tomou uma iniciativa humanitária, que preserva a autonomia da diplomacia brasileira e os tratados que o Brasil tem assinado de respeito aos direitos humanos. Ele não pode ser punido. Ele tem que ser homenageado”, comentou o parlamentar.
PERFIL Saboia entrou no Itamaraty aos 21 anos. Passou em primeiro lugar no concurso do Instituto Rio Branco – considerado um dos mais difíceis do país – para a carreira diplomática. Entre os colegas de trabalho, é tido como um diplomata extremamente disciplinado, tranquilo e fiel às normas internas do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Ocupou vários cargos de destaque e tinha a confiança total de Patriota. Foi representante do governo brasileiro no Banco Mundial.
O diplomata é bastante ligado ao ministro da Defesa, Celso Amorim. Foi assessor direto dele por seis anos, quando Amorim ocupava a pasta das Relações Exteriores no governo Lula. Participou, inclusive, da equipe de transição do governo no fim de 2002.
Bastante religioso, antes de participar da reunião, ontem à tarde, na sede do ministério, em Brasília, Eduardo Saboia passou na Catedral Metropolitana para rezar. Quem o conhece diz que o caso Molina o deixou bastante abalado. Saiu da reunião no Itamaraty sem falar com os jornalistas, ao contrário do que vinha fazendo desde a chegada ao Brasil. O diplomata disse que a partir de hoje só vai falar por meio de advogados.
Casado com uma oficial de chancelaria e pai de três filhos, é de uma família com tradição diplomática. O pai dele, o embaixador Gilberto Saboia, foi secretário de Estado de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique Cardoso. O avô Henrique Saboia também foi embaixador.
Cinco perguntas para...
Eduardo Saboia - encarregado de negócios da Embaixada do Brasil na Bolívia
O ministro Antonio Patriota acabou de ser demitido. Como o senhor analisa este episódio?
Caiu? O ministro? Foi demitido? Não vou fazer análise sobre isso. Eu vou rezar por ele. Não tinha nenhuma intenção de provocar isso.
O senhor é um diplomata com excelente reputação no governo brasileiro. O senhor comunicou ao Itamaraty que iria retirar o senador boliviano da embaixada?
Não. Foi uma decisão tomada naquele momento. Havia um risco. Não havia tempo para comunicar nada. A situação se tornou aguda e exigia uma reação.
O senhor não chegou a pensar que a atitude poderia provocar um grave conflito diplomático?
Havia um risco de segurança. Num momento como esse, não é preciso de instrução para atuar. Agi na hora. O contexto foi se agravando. Havia um quadro de confinamento que se acentuou. Ele estava ali ao meu lado. Sofria constantemente com isso. Eu não poderia correr esse risco. A ação não foi planejada. Eu conduzi uma operação de êxito. A ação salvaguardou os bens maiores que são a vida e a honra. Quando estamos numa situação de emergência, não se calculam as consequências.
Qual foi a gota d’água que provocou essa reação do senhor?
Houve uma ameaça de suicídio. A informação chegou por meio do advogado dele. A possibilidade me atormentava. O advogado falou que eu seria responsabilizado.
Como o senhor analisa a reação do governo brasileiro?
Vou responder a um inquérito. Você é a última pessoa da imprensa com quem vou falar. A partir de agora, só falo por meio do meu advogado.