O advogado Luiz Felippe Monteiro, filho de d. Lyda, que morreu ao abrir uma carta-bomba endereçada ao então presidente da OAB, Eduardo Seabra Fagundes, disse que houve um acerto político para não avançar nas investigações: "Houve um acordo entre oposição e governo pelo silêncio em relação aos atentados em troca das eleições de 1982". "Precisamos saber quem financiou, planejou e executou o atentado e quem impediu as investigações. Ainda que não sejam punidos, que o nome dos responsáveis seja levado para a sociedade conhecer", afirmou o filho de d. Lyda.
Integrante da Comissão Nacional da Verdade (CNV), a advogada Rosa Cardoso da Cunha disse que possíveis responsáveis pela bomba da OAB não são beneficiados pela Lei de Anistia, já que o crime aconteceu em 1980 e a lei é de 1979.
Segundo Damous, o delegado que presidiu o inquérito, José Armando Costa, disse à comissão estadual que o SNI foi quem apontou o americano Ronald Watters como suspeito do atentado. Watters foi inocentado e a investigação arquivada.
O presidente da comissão estadual disse que uma perícia no retrato falado do homem que levou a carta-bomba à OAB poderia ajudar nas investigações. "Funcionários da OAB deram elementos para um retrato falado que guarda semelhança com o agente do DOI-Codi `Guarani', mas é preciso um exame pericial", afirmou Damous. O desenho mostra uma cabeça sem rosto, com cabelos compridos, barba e bigode. "Guarani" foi visto no Riocentro pouco depois da explosão acidental da bomba. "Nossa tentativa vai ser provar que esse inquérito foi uma farsa, que quem pôs a bomba na OAB foram agentes ligados ao DOI-Codi e ao SNI e que foram os mesmos da bomba do Riocentro. Ronald Watters era um bode expiatório e o SNI conduziu o inquérito do início ao fim", afirmou o presidente da comissão estadual.
Seabra Fagundes disse à plateia, formada principalmente por alunos de Direito, que, ao chegar à sede da Ordem no dia do atentado, encontrou "um quadro dantesco". "As coisas correram com enorme displicência", afirmou, referindo-se ao inquérito policial.
Quartel
Representante da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardoso disse que o Comando Militar do Leste (CML) apresentou "argumentos plausíveis" ao impedir, na semana passada, o acesso de integrantes da comissão estadual às dependência do antigo DOI-Codi, localizado em um quartel da Rua Barão de Mesquita, na Tijuca (zona norte), onde funciona o 1º Batalhão da Polícia do Exército. O CML disse que a comissão estadual não poderia fazer diligência em uma instituição federal. Segundo a advogada, as comissões nacional e estadual vão discutir uma nova visita, mas que antes será preciso um pedido de autorização ao ministro da Defesa, Celso Amorim. Para a advogada, a comissão estadual "se antecipou". "São argumentos plausíveis de que (o CML) é um órgão federal. Se nós tivéssemos feito isso em conjunto naquele momento, com o procedimento que a Comissão Nacional tem que seguir, não teria havido esse problema", disse Rosa. As comissões pressionam para que o quartel seja transformado em um centro de memória sobre a ditadura militar.