Jornal Estado de Minas

Governo tenta amenizar crise provocada pela fuga de senador boliviano

Dilma rechaça comparação entre DOI-Codi e embaixada onde boliviano estava asilado e critica o diplomata que o trouxe para o Brasil. Aliados evitam ida dos dois ao Congresso

Juliana Braga João Valadares Karla Correia
Em BH, Dilma rechaça comparação entre DOI-Codi e embaixada onde boliviano estava asilado e critica o diplomata que o trouxe para o Brasil - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press
Um dia depois da saída de Antonio Patriota do Ministério das Relações Exteriores, o governo da presidente Dilma Rousseff adotou uma tática para distensionar a relação com a Bolívia e evitar agravamento da crise política interna. Com a participação do senador Jorge Viana (PT-AC), velho conhecido do senador boliviano Roger Pinto Molina, que fugiu da embaixada do Brasil em La Paz, o Planalto conseguiu convencer o parlamentar e o diplomata Eduardo Saboia, responsável pela fuga, a não prestarem informações na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado. Assim, evitou que a oposição ganhasse um palanque no Congresso ao questionar a atuação do Executivo no episódio. “Minha presença na Comissão de Relações Exteriores seria um desastre, neste momento, para mim e para o governo brasileiro”, admitiu Roger Pinto. A presidente, por sua vez, não poupou críticas nem à operação nem aos argumentos apresentados pelo diplomata que a executou.


Durante visita ao Congresso Nacional ontem para receber o relatório final da CPI da Violência contra a Mulher, Dilma disse que o “Brasil jamais poderia aceitar” colocar em risco a vida de um asilado político. E foi dura em relação à declaração de Saboia comparando a sala onde Molina estava hospedado ao DOI-Codi. “Eu estive no DOI-Codi, eu sei o que é o DOI-Codi, e asseguro a vocês: é tão distante o DOI-Codi da embaixada brasileira lá em La Paz como é distante o céu do inferno, literalmente isso”, disparou.
Na saída, a presidente rebateu as declarações dadas por Saboia no domingo e na segunda-feira depois de o Itamaraty tê-lo orientado a não se manifestar. O diplomata voltou atrás quando o órgão soltou uma nota citando-o nominalmente e disparou uma série de acusações. Ele disse que agiu porque não havia nenhuma negociação em curso para retirar o senador da embaixada, e que era necessário pôr fim à situação que o parlamentar vivia. Além disso, Saboia comparou Roger Pinto a Dilma. “Eu escolhi a vida. Eu escolhi proteger uma pessoa, um perseguido político, como a presidente Dilma foi perseguida”, argumentou.

Dilma negou a ausência de negociações para retirar Roger Molina da Bolívia. “Nós negociamos em vários momentos o salvo-conduto e não conseguimos”, disse. Segundo ela, o Brasil não poderia aceitar retirar o senador sem o salvo-conduto de seu país, por questões de segurança. “Lamento profundamente que um asilado brasileiro tenha sido submetido à insegurança. Lamento, porque em um Estado democrático e civilizado, a primeira coisa que se faz é proteger a vida sem qualquer outra consideração”, sustentou.

Conforto

A presidente disse ainda que as condições da embaixada brasileira em La Paz eram confortáveis para Molina e rechaçou a comparação com o DOI-Codi. “Nós não estamos em situação de exceção, não há nenhuma similaridade”, pontuou. O Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi) era um órgão de inteligência e repressão subordinado às Forças Armadas com a finalidade de garantir “a ordem” durante o regime militar. Os prédios onde funcionavam as unidades do órgão serviam como presídio, onde ocorria tortura praticada pela repressão.

Ao mesmo tempo, no campo diplomático, o governo corre para nomear um novo encarregado de negócios interino até a posse efetiva de Raimundo Magno como embaixador no país andino e não azedar a relação com o aliado na América do Sul. Além disso, vetou a indicação de Marcel Fortuna Biato, ex-embaixador na Bolívia, para a representação brasileira na Suécia.

Defesa

Para o Planalto, apesar de a escolta da embaixada que conduziu Roger Pinto da Bolívia ao Brasil ter sido feita por dois fuzileiros navais, a situação do ministro da Defesa, Celso Amorim, não é comprometedora. Isso porque os militares, ainda que ligados hierarquicamente ao Ministério da Defesa, teriam cumprido ordens do chefe do posto, o encarregado de negócios Saboia, superior ao adido militar da embaixada. Em nota oficial distribuída ontem, Amorim disse que os três adidos militares não estavam na representação diplomática.