Um dia depois da saída de Antonio Patriota do Ministério das Relações Exteriores, o governo da presidente Dilma Rousseff adotou uma tática para distensionar a relação com a Bolívia e evitar agravamento da crise política interna. Com a participação do senador Jorge Viana (PT-AC), velho conhecido do senador boliviano Roger Pinto Molina, que fugiu da embaixada do Brasil em La Paz, o Planalto conseguiu convencer o parlamentar e o diplomata Eduardo Saboia, responsável pela fuga, a não prestarem informações na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado. Assim, evitou que a oposição ganhasse um palanque no Congresso ao questionar a atuação do Executivo no episódio. “Minha presença na Comissão de Relações Exteriores seria um desastre, neste momento, para mim e para o governo brasileiro”, admitiu Roger Pinto. A presidente, por sua vez, não poupou críticas nem à operação nem aos argumentos apresentados pelo diplomata que a executou.
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Senador boliviano precisará passar por novo processo de asiloPSOL quer esclarecimentos da Defesa e do Itamaraty sobre vinda do senador bolivianoEntrevista do senador boliviano Pinto Molina é canceladaItamaraty decide afastar diplomata que trouxe ao Brasil senador bolivianoFerraço diz que repetiria participação na retirada do senador bolivianoPara Carvalho, fuga de senador feriu soberania bolivianaMinistro é chamado para falar sobre cubanos e bolivianoMinistra evita comentar situação de Molina em La PazDilma negou a ausência de negociações para retirar Roger Molina da Bolívia. “Nós negociamos em vários momentos o salvo-conduto e não conseguimos”, disse. Segundo ela, o Brasil não poderia aceitar retirar o senador sem o salvo-conduto de seu país, por questões de segurança. “Lamento profundamente que um asilado brasileiro tenha sido submetido à insegurança. Lamento, porque em um Estado democrático e civilizado, a primeira coisa que se faz é proteger a vida sem qualquer outra consideração”, sustentou.
Conforto
A presidente disse ainda que as condições da embaixada brasileira em La Paz eram confortáveis para Molina e rechaçou a comparação com o DOI-Codi. “Nós não estamos em situação de exceção, não há nenhuma similaridade”, pontuou. O Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi) era um órgão de inteligência e repressão subordinado às Forças Armadas com a finalidade de garantir “a ordem” durante o regime militar. Os prédios onde funcionavam as unidades do órgão serviam como presídio, onde ocorria tortura praticada pela repressão.
Ao mesmo tempo, no campo diplomático, o governo corre para nomear um novo encarregado de negócios interino até a posse efetiva de Raimundo Magno como embaixador no país andino e não azedar a relação com o aliado na América do Sul. Além disso, vetou a indicação de Marcel Fortuna Biato, ex-embaixador na Bolívia, para a representação brasileira na Suécia.
Defesa
Para o Planalto, apesar de a escolta da embaixada que conduziu Roger Pinto da Bolívia ao Brasil ter sido feita por dois fuzileiros navais, a situação do ministro da Defesa, Celso Amorim, não é comprometedora. Isso porque os militares, ainda que ligados hierarquicamente ao Ministério da Defesa, teriam cumprido ordens do chefe do posto, o encarregado de negócios Saboia, superior ao adido militar da embaixada. Em nota oficial distribuída ontem, Amorim disse que os três adidos militares não estavam na representação diplomática.