La Paz – A Procuradoria-Geral da Bolívia solicitou nessa quinta-feira à Interpol a emissão de um alerta de prisão contra o adversário do presidente Evo Morales que ingressou no Brasil no sábado, senador Roger Pinto Molina. Segundo o procurador-geral interino boliviano, Roberto Ramírez, a solicitação foi enviada após uma "avaliação de todos os processos e mandados de prisão contra o senador". A Justiça ordenou sua prisão por quatro crimes, todos relacionados a irregularidades na administração pública. O pedido foi feito na véspera da reunião de Morales com a presidente Dilma Rousseff para discutir a crise provocada pela operação de traslado ao Brasil do senador – asilado havia 15 meses na embaixada brasileira em La Paz –, que foi organizada pelo diplomata brasileiro Eduardo Saboia à revelia do Itamaraty e sem o salvo-conduto do governo boliviano.
O documento pedido por La Paz à Interpol é a notificação vermelha, uma solicitação válida para todos os países integrantes da polícia internacional para que o suspeito seja identificado e localizado para prisão preventiva e extradição. "Essa pessoa (Roger Pinto) tem que responder aos processos de corrupção, por isso são ativados esses mecanismos internacionais para que se tornem efetivas as ordens de prisão. Este é o trâmite que se segue sempre que uma pessoa se declara rebelde", disse Ramírez.
Roger Pinto Molina pediu abrigo à embaixada brasileira em La Paz em 28 de maio de 2012 e ficou no local por 455 dias, argumentando que sofria perseguição política. Em agosto do ano passado, o governo brasileiro deu asilo diplomático ao senador, mas este não recebeu o salvo-conduto para viajar ao Brasil.
As autoridades bolivianas acusam Roger Pinto de corrupção em vários processos, o que o político sempre negou. A promotoria lembrou que o senador foi condenado a um ano de prisão por um tribunal boliviano que o declarou culpado de danos econômicos ao Estado estimados em US$ 1,7 milhão (R$ 4,08 milhões).
Os presidentes Evo Morales e Dilma Rousseff se reunirão hoje no Suriname, onde vão participar da Cúpula da Unasul. para buscar uma solução para a crise do caso Roger Pinto. O encontro foi pedido por Dilma durante telefonema ao colega boliviano na quarta-feira e confirmado ontem pela ministra de Comunicação da Bolívia, Amanda D’ávila. Na quarta-feira, Morales pediu ao Brasil a entrega de Roger Pinto "à Justiça boliviana para que seja julgado como qualquer autoridade envolvida em corrupção".
O encontro, entretanto, não foi confirmado pelo ministro das Relações Exteriores brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, embora ele tenha admitido que, em tais cúpulas, "há sempre um contato fluido" entre governantes.