Jornal Estado de Minas

Novo ministro coloca diplomatas para escanteio

Após a fuga do senador boliviano, o novo ministro das Relações Exteriores remove para Brasília o embaixador do Brasil na Bolívia e seu substituto, que coordenou a operação

Jorge Macedo - especial para o EM
"Era uma situação limite que não poderia continuar a ser tratada conforme ritmos e cânones diplomáticos, ao sabor das conveniências políticas", avalia Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado - Foto: Pedro França Agência Estado
O novo ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, removeu os diplomatas Marcel Fortuna Biato e Eduardo Paes Saboia da Embaixada do Brasil em La Paz, Bolívia. Agora, eles vão trabalhar na sede do Itamaraty, em Brasília. A decisão está em portarias publicadas ontem no Diário Oficial da União. Os servidores estão envolvidos no episódio da entrada do senador boliviano Roger Pinto Molina no Brasil.
Eduardo Saboia foi o responsável por retirar da Embaixada do Brasil em La Paz o senador boliviano, que estava asilado havia 15 meses no local e viajou por 22 horas em carro diplomático brasileiro até chegar a Corumbá (MS) no sábado. Já Marcel Biato era o embaixador do país na Bolívia e estava de férias desde 17 de agosto. O Palácio do Planalto acredita que Biato tem envolvimento no caso, apesar de não estar na embaixada quando Roger Pinto foi retirado por Saboia. De qualquer forma, mesmo que ele não tenha relação direta com a fuga, a presidente Dilma Rousseff o culpa por ter autorizado a entrada do senador sem ter consultado o Itamaraty.

Na quarta-feira, Marcel Biato teve sua indicação como embaixador na Suécia cancelada. Em mensagem encaminhada ao Senado Federal, a presidente pediu a retirada da indicação lida há 12 dias na Casa. Ontem, o plenário do Senado aprovou a solicitação.

Marcel Biato era embaixador do Brasil na Bolívia desde 2010, mas estava afastado da embaixada após a concessão de asilo ao senador boliviano. Em junho do ano passado, em meio a uma crise diplomática, foi decidida a transferência do embaixador brasileiro da Bolívia para a Suécia. O pedido teria partido do governo boliviano, que vinha fazendo críticas à atuação de Biato no caso de Roger Pinto. O embaixador chegou a ser acusado pelo governo boliviano de "porta-voz da oposição".

Saboia, por sua vez, está afastado das funções diplomáticas enquanto é alvo de investigações pela comissão de sindicância, formada por um auditor fiscal e dois embaixadores, que apura sua atuação no caso. A crise causada pela retirada de Roger Pinto da Bolívia, provocada pela decisão de Saboia de coordenar a saída do boliviano da embaixada brasileira, onde esteve asilado por quase 15 meses, gerou a substituição do ex-chanceler Antonio Patriota por Figueiredo. Para setores do governo, a iniciativa do diplomata implica quebra de hierarquia e desrespeito às instâncias superiores do Itamaraty.

Porém, Saboia disse ter tomado a iniciativa porque o quadro se agravava com o fato de o senador boliviano estar deprimido e indicar que pretendia se suicidar. O diplomata disse que tomou a decisão por razões humanitárias. Ele pode ser alvo de uma série de punições que vão de advertência oral ou escrita, suspensão temporária e até exoneração da carreira.

Defesa

Responsável por transportar o senador boliviano de Corumbá a Brasília, o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), deu ontem explicações ao colegiado sobre sua participação no caso e defendeu a operação. "Era uma situação limite que não poderia continuar a ser tratada conforme ritmos e cânones diplomáticos, ao sabor das conveniências políticas, tornando-se apenas um item a mais da nossa agenda bilateral, sempre sujeita, durante mais de um ano, a ceder preferência para outras questões", atacou Ferraço.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), por sua vez, criticou o fato de Ferraço não ter informado os integrantes da comissão sobre o resgate de Roger Pinto e a ação conduzida por Saboia. "Quando a gente analisa o serviço diplomático brasileiro, aí vem uma grande preocupação. O diplomata representa não o coração dele, representa 200 milhões de pessoas", afirmou. Em defesa de Ferraço, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) disse que a operação foi correta porque preservou uma vida humana.