Brasília – A 7ª Cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) acabou se transformando em pano de fundo para o encontro de desagravo da presidente Dilma Rousseff com seu colega da Bolívia, Evo Morales, depois do incidente diplomático motivado pela fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil. Antes de se encontrar com Dilma, Evo já havia dado declarações amenizando a crise e acusando “grupos” de tentarem colocá-lo contra a chefe de Estado brasileira. Numa manifestação de que as relações entre os dois não azederam, ele presenteou a brasileira com dois bonecos típicos da Bolívia.
“Alguns grupos querem nos colocar contra a presidente Dilma, mas não vão conseguir. Temos uma relação madura”, afirmou o presidente boliviano em Paramaribo, no Suriname. A fala já representava uma mudança de tom em relação às duras declarações dadas por Morales ao longo da semana. Na quarta-feira, ele criticou o governo brasileiro e afirmou que, se acontecesse um caso semelhante em território boliviano, ele “deixaria esse corrupto (Roger Pinto) na fronteira”. O senador responde a 20 processos por corrupção na Bolívia e alega que está sendo perseguido politicamente pelo governo Morales, por ser um dos principais líderes da oposição e pelas denúncias que faz contra o presidente boliviano.
Evo Morales quer que o Brasil extradite Roger Pinto, que está em território brasileiro em uma situação juridicamente precária. Isso porque, ao deixar a embaixada brasileira em La Paz, o senador perdeu o asilo diplomático que havia conseguido em 2012. Agora, ele precisa conseguir um asilo territorial, para permanecer no país. O presidente boliviano disse que seu governo enviará ao Brasil os processos sobre os supostos crimes de seu opositor.
Na sua primeira viagem como chanceler brasileiro, o novo ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, disse que a presidente Dilma, durante a reunião, demonstrou “seu repúdio ao episódio de retirada do senador Roger Pinto da Bolívia”. Na quarta-feira, Dilma telefonou para Morales e relatou a demissão do então ministro Antonio Patriota, como consequência do episódio.
O novo ministro afirmou que as diretrizes da política externa não vão mudar, mas admitiu que algumas correções devem ser feitas. “O caso da retirada do senador boliviano da embaixada brasileira e a sua condução sem garantias ao território brasileiro é um fato grave e que está sendo apurado. Procedimentos têm que ser aperfeiçoados para que situações como essa jamais aconteçam novamente”, disse o ministro.
Ainda de acordo com Figueiredo, o pedido de refúgio do senador será analisado pelo Conselho Nacional de Refugiados (Conare). Ele informou que o pedido de extradição de Roger Pinto ainda não foi formalizado pela Bolívia e, quando isso acontecer, terá que passar pelo crivo do Supremo Tribunal Federal (STF).
Viagem O senador Roger Pinto Molina decidiu sair de Brasília neste fim de semana. Ele viajou para a fazenda de um amigo, sem informar a localização, para evitar assédio. Antes, o político boliviano passou por exames de avaliação médica, física e psicológica, segundo informações do advogado dele, Fernando Tibúrcio Peña. Ele disse que a maior preocupação do senador, no momento, é reencontrar a família. A mulher e a filha estão em Brasilândia, na fronteira do Brasil com a Bolívia. O encontro deve acontecer na semana que vem.
Paraguai Além de conversar com Morales, a presidente mediou a primeira reunião entre os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e do Paraguai, Horácio Cartes. Opositor da entrada da Venezuela no bloco, o Paraguai foi suspenso do Mercosul depois que os demais países entenderam que a deposição do então presidente paraguaio, Fernando Lugo, há 14 meses, não seguiu ritos democráticos. A reunião da Unasul, em Paramaribo, marcou o retorno dos paraguaios ao bloco. (Colaborou Vinicius Doria)