Márcio Barbosa, escritor e militante do movimento negro, autor de um livro com depoimentos de fundadores da Frente, todos já falecidos, critica a pouca divulgação dada ao movimento frente-negrino. “O protagonismo do povo negro ao longo da história brasileira foi, e até hoje é, muito intenso, mas desconhecido.”
Para Barbosa, o desconhecimento de sua história está ligado ao fato de a Frente ter sido rotulada por alguns estudiosos como fascista e assim “ser condenada ao limbo”. É que no jornal da FNB chegaram a ser publicados artigos defendendo Hitler, além de alguns de seus líderes serem ligados ao Movimento Integralista. “Negando-se ao negro uma história própria, negando sua luta contra a discriminação, pode-se perpetuar a noção de que o racismo não existe ou é irrelevante na sociedade brasileira, e que ações como as da Frente Negra têm origem num grupo minoritário.”
De acordo com Barbosa, independentemente da orientação ideológica ou partidária, o que sobressaía era o fato de os integrantes serem negros. Essa unidade era pensada em termos conservadores, nacionalistas. O negro tinha participado do processo de construção do país, portanto, tinha direito a ele.
Para a pesquisadora da Frente Negra Brasileira Laiana Lannes, a expansão do movimento ocorreu em decorrência do contexto da época. “A revolução de 1930 trouxe esperanças para os negros brasileiros.” Sobretudo em São Paulo e Minas, onde a Frente mais se desenvolveu, os políticos da Primeira República eram associados aos antigos senhores de escravos. “Nesse sentido, a chegada de Getulio Vargas ao poder foi, para grande parte dos negros desses estados, a derrota dos ex-senhores de escravos, que nada tinham feito para amparar essa população recém-liberta.”
Ela explica que, quando a Frente surgiu já havia outras entidades que congregavam negros, mas elas não tinham, como a Frente, “um propósito claro e sistemático de ascensão social dos negros e combate à discriminação racial”.