São João da Lagoa e Francisco Dumont – As dificuldades que envolvem a saúde nos municípios parecem se agravar nas regiões mais pobres do país. Em São João da Lagoa, cidade de 4,8 mil habitantes, no Norte de Minas, que conta atenção básica, são muitas as barreiras para o atendimento à população. Moradores denunciam que o único médico contratado deixou o trabalho há dois meses. A reportagem do Estado de Minas percorreu o município e encontrou apenas uma médica que trabalha no Programa Saúde da Família (PSF).
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Relatórios da CGU mostram a realidade desanimadora da saúde no paísPrefeitos disputam médicos para trabalhar no interior do BrasilMinistério da Saúde tem dificuldade de gastar recursos destinados para o setor Em Minas, hospital que custou mais de R$ 1 milhão não poderá ser usadoMais Médicos é trunfo de Dilma em 2014A lavradora Maria Correa de Araújo Fonseca reclama que sofre de diabetes e pressão alta e precisa de acompanhamento médico constantemente. Com a falta do médico, ela é obrigada viajar até Montes Claros, a 50km de distância. O problema maior é o preço da passagem: R$ 80 – ida e volta. “É muito difícil para a gente”, lamenta a mulher.
Inhaúma, também em São João da Lagoa, costumava receber a visita de um médico a cada 30 dias, que atendia em uma escola. “Mas há mais dois meses que não vem médico aqui”, relata a trabalhadora rural Maria Marilene Fonseca. Ela conta que o filho, de 10 anos, que sofre de arritmia cardíaca, em dias de crise precisa ser levado até Coração de Jesus, a 30 km de distância. Para isso, a família precisa arcar com R$ 60 do transporte.
Na quarta-feira, o Centro de Saúde da sede de São João da Lagoa funcionava sem médico. Consultas só estavam sendo realizadas pela única médica contratada para o PSF, que há três meses começou a trabalhar no município. Ela disse que mora na cidade e uma vez por semana atende em localidades rurais do município. Assegurou que cumpre a jornada de 40 horas semanais. O secretário municipal de Saúde, Euber Jedson Caldeira, informou que a prefeitura já está providenciando a contratação de um outro médico e que espera receber profissionais do Programa Mais Médicos.
POSTOS FECHADOS Na localidade de Pau Preto, zona rural de Francisco Dumont, também no Norte de Minas, o posto de saúde, apesar das boas condições, está abandonado. Segundo moradores, desde janeiro não aparece médico no local. “A realidade nossa é muito difícil. Não vem médico no posto e as estradas também são muito ruins”, diz o agricultor Didito Veiga de Paula, morador do reassentamento Nova Esperança, que reúne 29 famílias, instaladas no local pela Cemig depois de retiradas da área inundada pela Barragem de Irapé, no Vale do Jequitinhonha. Também moradora do Nova Esperança, Maria Selma Campos conta que o filho Marcos, de 13 anos, quebrou o braço direito e precisou ser levado para Bocaiúva, a 40km de distância. “A cada semana, ele precisa retornar a Bocaiúva para revisão. A despesa de cada viagem fica em R$ 140. É muito caro pra gente”, diz Selma.
No distrito de Buriti Grande, o velho prédio do posto de saúde também está fechado, com aspecto de abandono. O aposentado José Feliciano da Silva, de 76 anos, conta que antigamente a localidade recebia a visita de um médico mensalmente. “A última vez que trouxeram médico aqui foi em outubro do ano passado, ainda na época da campanha política”, informou o aposentado.
O secretário de Saúde, Adilson Medeiros Pereira, garantiu que a prefeitura já retomou a assistência na zona rural e que nos próximos dias o atendimento será reiniciado nos postos de Buriti Grande e do Nova Esperança, com a visita de um médico pelo menos uma vez por mês. Pereira considera que Francisco Dumont, com 4,76 mil habitantes, já tem uma boa estrutura de atenção básica à saúde, com um ambulatório e uma unidade do PSF e cinco médicos (um pediatra, um ginecologista e três clínicos), que, garantiu, cumprem a jornada de 40 horas por semana. Ele reclama, porém, dos gargalos provocados pela falta de recursos. Os casos mais complexos e exames especializados são encaminhados para Bocaiúva e Montes Claros. “Nossa grande dificuldade é pagar e conseguir realizar a tempo os exames complementares pedidos.”