Brasília – A presidente Dilma Rousseff chegou ontem à Rússia, onde participará da reunião de cúpula do G20, disposta a discutir com outros líderes as denúncias de espionagem norte-americana sobre o governo brasileiro e a obter apoio para ações conjuntas em resposta aos Estados Unidos. Além do ministro da Fazenda, Guido Mantega, acompanha a presidente em São Petersburgo o chanceler Luís Alberto Figueiredo, que anteontem reforçou a disposição do país em buscar parcerias contra o rastreamento de comunicações com governos de países desenvolvidos e com os parceiros do Brics —Rússia, Índia, China e África do Sul. No começo da tarde de amanhã, antes da abertura oficial da cúpula, os governantes do Brics terão um encontro paralelo, no qual o tema deve ser colocado por Dilma.
As revelações sobre a interceptação de comunicações entre a presidente e auxiliares próximos, feita no domingo ao Fantástico, provocaram dura reação do governo, que exigiu de Washington uma "resposta satisfatória", formal e por escrito, ainda nesta semana. A visita de Estado que Dilma deve fazer aos EUA em outubro foi colocada em suspenso por fontes do Planalto, mas ontem o vice-presidente Michel Temer disse acreditar que uma solução diplomática será encontrada em tempo. "A presidente terá discernimento suficiente para decidir se deve ir ou não ir", afirmou. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ressaltou o "embaraço" causado pelo incidente, mas também apostou em um acordo que permita manter a viagem de Dilma.
Em reuniões paralelas que manterão a partir de hoje, os chanceleres de vários dos países presentes ao G20 devem abordar também temas como a guerra da Síria. Um porta-voz francês informou que o chanceler Laurent Fabius planeja discutir a crise síria com representantes dos EUA, do Brasil, da China, da Rússia e da Turquia. O Itamaraty confirmou que está prevista uma reunião de Fabius com o ministro Figueiredo, em momento a ser definido.
CPI
Em Brasília, o Senado instalou ontem uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a espionagem americana, presidida por Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e com Ricardo Ferraço (PMDB-ES) como relator. Nos primeiros minutos de trabalho, a CPI aprovou o envio de requerimento à Polícia Federal para que o jornalista Glenn Greenwald, que publicou as primeiras denúncias baseadas no vazamento de Snowden, e seu namorado, David Miranda, detido por nove horas no aeroporto de Londres, há 15 dias, recebam proteção da Polícia Federal enquanto durarem as investigações. O prazo original é de 180 dias, prorrogáveis por mais 180.
Ferraço disse estar em contato com Greenwald e afirmou que a iniciativa de solicitar proteção foi tomada em acordo com o jornalista. "Precisamos desenvolver ações para esclarecer, dar a mais absoluta transparência em torno desses atos, que alcançaram níveis de intolerância", defendeu o relator. Os ministros Paulo Bernardo (Comunicações), Celso Amorim (Defesa) e José Eduardo Cardozo (Justiça) podem ser convidados a prestar esclarecimentos na comissão. Um requerimento deve ser votado na próxima sessão, marcada para terça-feira. (Colaborou Karla Correia)