Brasília – Celebrada como um avanço democrático na noite de terça-feira por deputados de todas as legendas – a aprovação da emenda constitucional foi unânime em plenário –, a derrubada do voto secreto nas votações do Congresso ficará restrita apenas aos processos de cassação e não a todos os escrutínios que ocorrerem no Parlamento. Todas as legendas, tanto as que integram a base aliada quanto as que fazem oposição ao Palácio do Planalto, têm dificuldades em aprovar a medida mais ampla. Por isso, os eleitores continuarão sem saber como votam os parlamentares escolhidos por eles a cada quatro anos.
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Renan Calheiros quer dividir proposta que acaba com voto secretoVoto dos parlamentares é aberto na maioria das democracias ocidentaisTemer discute voto aberto com presidentes do CongressoSenado deve manter voto secreto para vetos e indicaçõesFim do voto secreto domina a pauta do Senado esta semanaFim do voto secreto no Congresso pode ser definido em outubroManifestantes seminus protestam em frente ao Congresso NacionalRelator admite que Senado pode limitar voto aberto apenas a casos de cassaçãoSenado cria atalho para abrir voto nas cassações de mandatos parlamentaresPeemedebistas lutam por uma agenda positiva no CongressoÀ oposição, que sempre reclama do rolo compressor comandado pela base aliada do governo, também é conveniente uma saída mais modesta. Agora que o Congresso resolveu, mensalmente, analisar os vetos presidenciais, parlamentares do PSDB, DEM e PPS acham que, com o voto aberto, ficaria mais fácil para o Planalto controlar os governistas. “Em votações técnicas, como os vetos e matérias orçamentárias, o Executivo tem muito mais força para pressionar seus parlamentares a manter o veto presidencial”, disse o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), deputado Danilo Forte (PMDB-CE).
Autor da PEC 196/2012, que acaba com o voto secreto apenas para os processos de cassação, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) considerou a aprovação da proposta da Câmara uma manobra política. Ele teme que, no fim das contas, nenhuma das duas avance. “A aprovação da PEC 349 (votada na Câmara) terá o efeito prático de adiar a aprovação do voto aberto para a cassação de mandato”, lamentou ele.
Dias explicitou qual seria o receio de alguns senadores para a quebra ampla, geral e irrestrita do sigilo nas votações. “Na aprovação de nomes indicados para o Supremo Tribunal Federal e para Procuradoria Geral da República, por exemplo, há senadores que defendem que a votação deve permanecer secreta”. Nos casos dessas votações, os parlamentares temem que um voto contra a indicação crie uma inimizade que poderá, no futuro, facilitar a abertura de um processo criminal ou administrativo.
Monitoramento político
No fim da manhã dessa quarta-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), indicou qual seria o caminho a ser adotado. “A resposta mais concreta que nós podemos dar é votar, aqui no Senado, o que a Câmara já votou e é consenso, que é a abertura do voto no julgamento de deputado e senador. É essa a resposta concreta que a sociedade cobra e nós podemos dá-la. O restante tramita mais demoradamente”, afirmou.
Ele lembrou que abrir o voto de maneira geral é delicado, porque permite um monitoramento político pelo governo. “Qualquer governo, esse ou outro”, corrigiu-se. O senador não acha que a sociedade acabará por concluir que tudo não passa de um jogo de cena. “O voto aberto para cassação de mandato já tramita na Câmara há mais de um ano. Era essa proposta que devia ser apreciada”, justificou.
Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), Renan está criando um pulo do gato para fazer prevalecer seu desejo. “Ele está querendo fazer uma leitura do resultado de ontem a partir do que ele acredita ser o desejo secreto de alguns deputados. E aí faz uma leitura engenhosa do regimento”, criticou.