Cinco dias depois de conseguir na Justiça uma liminar proibindo o Diario de Pernambuco, a TV Clube e o Jornal do Commercio de citar seu nome em caso de suspeita de tráfico de influência, o presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchoa, ocupou a tribuna da Casa para fazer mea-culpa e anunciar a retirada da censura aos veículos de imprensa. Ao se defender, disse que a decisão de calar os meios de comunicação foi “unilateralmente” de sua assessoria jurídica.
O campo escolhido pelo deputado estadual Guilherme Uchoa (PDT) para se pronunciar pela primeira vez sobre a ação judicial que censurou a citação, por parte dos jornais e TVs do estado, do nome dele no caso de suposto tráfico de influência em um processo de adoção na Comarca de Olinda, foi o mais confortável possível. Ontem, na Assembleia Legislativa de Pernambuco, Casa que preside há sete anos, o político fez a linha da “mea-culpa”. Depois de 15 dias ausente do Legislativo, ele disse que a decisão de ingressar na Justiça foi tomada “unilateralmente” pelos advogados e anunciou: “mesmo tendo obtido a liminar que me foi deferida por ver meu nome por injusto e injurídico, protegido de imputações maliciosas e referências insinuativas, eu comunico aos senhores deputados que estou desistindo da ação”.
Foram 15 minutos de pronunciamento. Nele, afirmou diversas vezes não ter qualquer conhecimento sobre o caso, nem das pessoas envolvidas. Falou em favor da filha (Giovana Uchoa), dizendo que ela agiu, apenas, de “boa-fé” e “por razões humanitárias” e posicionou-se como defensor da democracia da informação. “Não patrocinei qualquer tentativa de inibir a plena liberdade de imprensa”, declarou. Por diversas vezes, citou a doença da esposa, que está em São Paulo desde o mês passado para se submeter a uma operação e ao fim, clamou: “Eu tenho defeitos, sou um ser humano e tenho sensibilidade”.
As palavras do presidente do legislativo estadual, dono de cinco mandatos na Casa, foram atentamente ouvidas por um plenário cheio, com quórum poucas vezes atingido nas sessões da quarta-feira. O discurso havia sido acertado durante a manhã, em uma reunião da Mesa Diretora. Na mesma ocasião ficou acordado entre os deputados que apenas os líderes de governo e oposição usariam o microfone para fazer apartes, evitando assim, que o discurso fosse desvirtuado para elogios “desmedidos” à pessoa do presidente, o que poderia não soar “verdadeiro”. A solidariedade dos demais foi expressada com apertos de mãos, abraços e tapas nas contas ao fim do pronunciamento.
O episódio ocorre no momento em que a Casa se encontra dividida em relação, principalmente, ao projeto do Voto Aberto, proposta que tramita sem consenso na Assembleia desde 2011. Na última terça, durante embate acalorado, a deputada Teresa Leitão (PT) criticou a falta de postura dos deputados em relação à demanda das ruas. Não faltaram críticas no discurso, também, a Uchoa.
Na semana passada o Diario de Pernambuco noticiou que a filha do deputado Guilherme Uchoa, Geovana, estaria sob investigação do Ministério Público por participar de um processo de adoção irregular. Ela teria praticado tráfico de influência, ajudando um casal a viabilizar a guarda provisória de uma criança. A denúncia descontentou Uchoa, que acionou a Justiça para não ser citado no caso.