Quase todos os dias, o norte-americano Glenn Greenwald – jornalista do diário britânico The Guardian – conversa pela internet com Edward Snowden, o ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA, pela sigla em inglês) e ex-assistente técnico da Agência Central de Inteligência (CIA) que se transformou em inimigo número 1 dos Estados Unidos. Por meio de um software de criptografia, Snowden repassou ao repórter cerca de 20 mil documentos sobre a espionagem praticada pela NSA. Em entrevista ao Estado de Minas, por telefone, Greenwald revelou que mais dados sobre a vigilância da comunicação da presidente Dilma Rousseff serão divulgados no domingo. Para ele, a posição de destaque do Brasil no cenário internacional é o motivo para a Casa Branca espionar o governo petista.
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Dilma afirma que Obama explicará espionagem até quarta-feiraBrics aproveitam G-20 para reprovar atos de espionagemDilma vê espionagem a democracias como terrorismoDiretor do Google nega participação em espionagemCabe ao presidente dos EUA pedir desculpas, diz LulaSe você faz reportagens contra uma das nações mais poderosas do mundo, como estou fazendo, é claro que há riscos. Também há pessoas em meu país que estão me ameaçando, falando que sou um criminoso e que devo ser preso. Estou tomando mais cuidado com a segurança, usando criptografia quando utilizo a internet, e evito falar muitas coisas ao telefone. Há muita pressão, mas estou muito contente com tudo.
Que interesses os Estados Unidos teriam em espionar a presidente Dilma Rousseff?
O Brasil está crescendo muito em sua importância com tudo, com petróleo, energia, questões econômicas e industriais. Acho que os Estados Unidos querem essa vantagem, para saber tudo o que o governo brasileiro está fazendo com temas econômicos. O governo americano pode saber tudo o que todo mundo está comunicando, planejando e pensando, o que aumenta muito o seu poder contra o Brasil, quando estiverem negociando acordos ou planejando tudo. Informações sobre a vida privada de políticos, lhes faz ter mais poder.
O pré-sal e o fato de o Brasil ter um governo de esquerda seriam incentivos à espionagem?
O Brasil é muito mais independente e mais forte do que antes. O governo norte-americano sempre olha como ameaça aqueles países que nem sempre lhe obedecem.
O governo brasileiro adiou a visita preparatória para a viagem de Dilma a Washington. Como vê essa resposta?
Muito forte. O governo está mostrando que olha para essa invasão à privacidade de Dilma e de todos os brasileiros como algo muito sério.
Quantos documentos foram entregues ao senhor por Edward Snowden e qual o teor deles?
Eu não contei, mas deve haver uns 20 mil documentos que ele me deu, talvez mais. Muitos ainda não publicados, são muito sérios e vão deixar muitos no mundo chocados, incluindo o Brasil especificamente. Uma reportagem, que será divulgada logo, traz denúncia mais séria ainda do que a reportagem sobre Dilma.
O senhor mencionou em sua conta no Twitter que uma nova denúncia seria divulgada no domingo. É possível antecipar algo?
A reportagem vai abordar como os Estados Unidos estão fazendo a espionagem contra o Brasil e informações sobre os motivos reais.
O programa de vigilância e de espionagem da NSA ainda funciona? Que métodos utiliza?
A NSA tem 75 mil empregados — 25 mil trabalham diretamente para a agência e 50 mil atuam por contrato com o governo. Eles coletam dados em outros países e usam grandes empresas de telecomunicações, que exploram o acesso ao sistema e com ele roubam os dados da internet e do telefone e os repassam para a NSA, que trabalha muito com Facebook, Google, Microsoft, Yahoo e Skype.