Jornal Estado de Minas

Mais detalhes da espionagem de Dilma serão divulgados domingo, afirma Greenwald

Norte-americano que divulgou denúncias diz que ascensão do Brasil motivou ação dos EUA

Rodrigo Craveiro
Glenn Greenwald diz que ainda há muita informação a publicar dos 20 mil documentos que recebeu - Foto: Lia de Paula/Agência Senado
Quase todos os dias, o norte-americano Glenn Greenwald – jornalista do diário britânico The Guardian – conversa pela internet com Edward Snowden, o ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA, pela sigla em inglês) e ex-assistente técnico da Agência Central de Inteligência (CIA) que se transformou em inimigo número 1 dos Estados Unidos. Por meio de um software de criptografia, Snowden repassou ao repórter cerca de 20 mil documentos sobre a espionagem praticada pela NSA. Em entrevista ao Estado de Minas, por telefone, Greenwald revelou que mais dados sobre a vigilância da comunicação da presidente Dilma Rousseff serão divulgados no domingo. Para ele, a posição de destaque do Brasil no cenário internacional é o motivo para a Casa Branca espionar o governo petista.
O senhor se considera um arquivo vivo? Teme ser morto por receber informações de Snowden?
Se você faz reportagens contra uma das nações mais poderosas do mundo, como estou fazendo, é claro que há riscos. Também há pessoas em meu país que estão me ameaçando, falando que sou um criminoso e que devo ser preso. Estou tomando mais cuidado com a segurança, usando criptografia quando utilizo a internet, e evito falar muitas coisas ao telefone. Há muita pressão, mas estou muito contente com tudo.

Que interesses os Estados Unidos teriam em espionar a presidente Dilma Rousseff?
O Brasil está crescendo muito em sua importância com tudo, com petróleo, energia, questões econômicas e industriais. Acho que os Estados Unidos querem essa vantagem, para saber tudo o que o governo brasileiro está fazendo com temas econômicos. O governo americano pode saber tudo o que todo mundo está comunicando, planejando e pensando, o que aumenta muito o seu poder contra o Brasil, quando estiverem negociando acordos ou planejando tudo. Informações sobre a vida privada de políticos, lhes faz ter mais poder.

O pré-sal e o fato de o Brasil ter um governo de esquerda seriam incentivos à espionagem?
O Brasil é muito mais independente e mais forte do que antes. O governo norte-americano sempre olha como ameaça aqueles países que nem sempre lhe obedecem.

O governo brasileiro adiou a visita preparatória para a viagem de Dilma a Washington. Como vê essa resposta?
Muito forte. O governo está mostrando que olha para essa invasão à privacidade de Dilma e de todos os brasileiros como algo muito sério.

Quantos documentos foram entregues ao senhor por Edward Snowden e qual o teor deles?
Eu não contei, mas deve haver uns 20 mil documentos que ele me deu, talvez mais. Muitos ainda não publicados, são muito sérios e vão deixar muitos no mundo chocados, incluindo o Brasil especificamente. Uma reportagem, que será divulgada logo, traz denúncia mais séria ainda do que a reportagem sobre Dilma.

O senhor mencionou em sua conta no Twitter que uma nova denúncia seria divulgada no domingo. É possível antecipar algo?
A reportagem vai abordar como os Estados Unidos estão fazendo a espionagem contra o Brasil e informações sobre os motivos reais.

O programa de vigilância e de espionagem da NSA ainda funciona? Que métodos utiliza?
A NSA tem 75 mil empregados — 25 mil trabalham diretamente para a agência e 50 mil atuam por contrato com o governo. Eles coletam dados em outros países e usam grandes empresas de telecomunicações, que exploram o acesso ao sistema e com ele roubam os dados da internet e do telefone e os repassam para a NSA, que trabalha muito com Facebook, Google, Microsoft, Yahoo e Skype.