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Estado de Minas

Dilma condiciona visita a Obama à prestação de informações pelos EUA sobre espionagem

Presidente vai propor à ONU medidas para prevenir abusos da Casa Branca


postado em 07/09/2013 06:00 / atualizado em 07/09/2013 06:58

Obama reconheceu a 'grande tensão' nas relações entre o Brasil e os EUA(foto: AFP PHOTO/POOL/Pablo Martinez Monsivais)
Obama reconheceu a 'grande tensão' nas relações entre o Brasil e os EUA (foto: AFP PHOTO/POOL/Pablo Martinez Monsivais)

Brasília
– A visita de Estado da presidente Dilma Rousseff a Washington, prevista para o fim de outubro, "depende das condições políticas" a serem criadas pelo presidente Barack Obama, que assumiu perante a colega, segundo ela, "responsabilidade direta e pessoal" pela apuração do incidente de eletrônica contra o Palácio do Planalto e por esclarecer "tudo" sobre o tema até quarta-feira. "O presidente Obama reiterou que queria criar as condições políticas para minha viagem e sabia que isso passava pela adoção de medidas em consonância com as requeridas pelo governo brasileiro", disse Dilma ontem, referindo-se à conversa que manteve com o americano na noite de quinta-feira, em São Petersburgo (Rússia), à margem da reunião de cúpula do G-20. A presidente avisou pessoalmente ao colega que vai propor à Organização das Nações Unidas (ONU) iniciativas de uma governança global da internet, que previna abusos.

Obama reconheceu "a grande tensão" nas relações entre o Brasil e os EUA, mas ressaltou que essa situação não deve se sobrepor aos interesses comuns dos dois países. "O Brasil é um país extremamente importante", afirmou. "Obviamente, uma relação forte entre as duas maiores nações do hemisfério só pode ser boa para os dois países e para a região", completou. Obama garantiu que seu governo trabalhará com autoridades brasileiras e do México – cujo presidente, Enrique Peña Nieto, foi espionado quando liderava as pesquisas eleitorais – para que juntos possam "resolver o que é fonte de tensão".

Ele e Dilma acertaram que o chanceler Luiz Alberto Figueiredo e a conselheira de Segurança Nacional dos EUA, Susan Rice, manterão contato na quarta-feira para dar prosseguimento às conversas. Segundo a presidente brasileira, esse será um "dia de avaliação". "Não esperem que quarta seja um dia D", ressaltou.

Dilma cobrou informações mais precisas sobre a dimensão do trabalho da inteligência americana no Brasil. "Eu acho muito complicado ficar sabendo dessas coisas pelo jornal", queixou-se. "Quero saber tudo o que tem. A palavra tudo, ela é muito sintética. Tudo. Em inglês, everything", disse. A presidente acrescentou que não basta um pedido de desculpas para que o caso seja esquecido e afirmou ter mostrado a Obama sua "indignação pessoal e do conjunto do país" em relação às denúncias de espionagem de mensagens e ligações telefônicas de seu governo, embaixadas, empresas e cidadãos brasileiros: "Fiz Obama ver que o tipo de relacionamento que nós temos, entre grandes democracias desta parte do mundo, é incompatível com um ato ou atos de espionagem", descreveu.

A presidente lembrou que o Brasil é um país democrático, sem conflitos étnicos ou religiosos e não abriga terroristas. Por isso, a espionagem em território nacional não poderia ser justificada como um esforço para manter a segurança dos EUA. "Essa espionagem, como não tinha nada a ver com segurança nacional, tinha a ver com fatores geopolíticos, com fatores estratégicos ou com fatores comerciais e econômicos", concluiu.

Obama tentou minimizar o mal-estar garantindo que investigará todas as denúncias sobre a ação da Agência de Segurança Nacional (NSA). Apesar de se mostrar compreensivo com a posição do Brasil e do México, ele ressaltou que o objetivo de uma agência de inteligência é obter a maior quantidade possível de informações confidenciais. "Se elas estivessem disponíveis por meio de fontes públicas, não existiria uma agência de inteligência", argumentou. "O que fazemos é semelhante ao que outros países fazem", defendeu-se. O presidente ponderou, no entanto, que os EUA devem reexaminar esse trabalho, para garantir que o uso de tecnologia não ameace a privacidade dos cidadãos e os direitos civis. "Porque nós podemos ter informação, não necessariamente significa que sempre devamos ter", disse.


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