Jornal Estado de Minas

Voto aberto é aprovado em sessão tumultuada da Câmara Municipal do Recife

Vereadores trocam farpas em sessão após acusações feitas por Asfora contra oposicionistas

Diário de Pernambuco
Em sessão tumultuada, com embate regado a troca de acusações e pedidos de desculpas, a Câmara do Recife aprovou, nessa segunda-feira, o voto aberto para a cassação de mandatos. A proposta recebeu 28 votos favoráveis e nenhum contra. A medida já havia sido aprovada em primeira discussão, em julho. A repercussão negativa da votação, na Câmara dos Deputados, que manteve o mandato do deputado condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Natan Donadon (sem partido), fortaleceu o discurso do grupo favorável à proposta de autoria da Mesa Diretora.
Desde o início da sessão, não havia polêmica em relação à adoção do voto aberto para cassação de vereadores pela Casa. O que, no entanto, não impediu o surgimento de divergências sobre outros pontos da proposta. Não há consenso, por exemplo, em relação à abertura dos votos para escolha da Mesa Diretora e dos vetos do prefeito. Apesar de concordar com a transparência em relação à cassação, a vereadora Priscila Krause (DEM), por exemplo, se mostrou contrária às outras medidas.

O ponto mais tenso das discussões na Casa, no entanto, foi originado fora da Casa. O alvo foi justamente o vereador Jayme Asfora (PMDB), que, em entrevista a uma rádio local, comparou a oposição da Câmara aos deputados Natan Donadon (RO) e Jaqueline Roriz (DF), ambos acusados de corrupção, além do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O caso foi lembrado pela vereadora Priscila Krause, falando em nome da oposição na Casa. O mal-estar foi geral.

“Não é desta forma que se debate politicamente, venho aqui pedir uma retratação pública. Tenho aqui 35 adversários políticos e não quero inaugurar a primeira relação de inimigo político”, desabafou Priscila. Ela foi defendida por outros colegas, inclusive governistas. O vereador Carlos Gueiros (PTB) fez questão de ressaltar que Jayme não contribui para um bom relacionamento com os colegas na Câmara e lembrou que quando os vereadores tiveram um aumento de subsídio de 60%, Jayme (que ainda não era vereador) fez críticas pesadas e chamou de excrescência o valor recebido pelos futuros colegas. “Chegou aqui há nove meses criando arestas com todos e agora que é vereador, o bolso está cheio de excrescências”, enfatizou Gueiros.

A retratação foi pedida e, após muito embate, atendida. Jayme Asfora declarou que fez as comparações num momento acalorado do debate. “Fui infeliz, injusto e equivocado, peço desculpas do fundo do coração a Priscila, aos colegas da oposição e a todos os presentes”. Dito isso, tratou de se defender das acusações de Gueiros. “Não recebo como vereador, optei por receber como procurador, já que não tenho condições de acumular honorários”, completou.

Dois dispositivos ainda pendentes

Depois de aprovado o voto aberto para cassação, ontem, visto pelos vereadores como um avanço histórico da Casa, restam ser definidas as votações para Mesa Diretora e vetos do Executivo. Ainda não há data para os dois dispositivos serem colocados em pauta.

Jayme Asfora apresentou um Projeto de Emenda à Lei Orgânica (PELO 64/2013) que defende a votação aberta para os dois itens. A pauta foi votada ontem na Comissão de Legislação e Justiça e aprovada por unanimidade. Agora, o próximo passo é ser votado em plenário. Mas o presidente da Casa, Vicente André Gomes (PSB), disse ainda não ter uma data definida. Até agora estão com Jayme na defesa do voto aberto para todas as questões na Câmara, os vereadores Augusto Carreras (PV) e Felipe Francismar (PSB) que mudaram suas opiniões recentemente diante das discussões sobre o assunto.

Outra possibilidade que ainda não está no papel, é a proposta de Vicente André Gomes. Ele propõe uma votação híbrida, onde as questões mais delicadas para o Plenário sejam definidas no momento da apreciação dos casos, com opções para voto aberto ou fechado. A decisão seria definida por maioria simples dos vereadores presentes na Casa.