Brasília – Após pressão do Palácio do Planalto, com recados claros encaminhados pela presidente Dilma Rousseff por pessoas próximas ao gabinete, o secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Paulo Roberto Pinto, pediu exoneração ontem do cargo. A saída de Paulo Roberto, investigado pela Polícia Federal na Operação Esopo, fragiliza a situação do ministro Manoel Dias. Ele permanece na função, por enquanto, porque Dilma não deseja comprar uma briga neste momento com o PDT. O caso do secretário-executivo era diferente. Ele era visto pelo Planalto como o braço operacional do presidente do PDT, Carlos Lupi, dentro do ministério. Lupi deixou o cargo de ministro em dezembro de 2011, após denúncias de irregularidades em convênios.
Diante da reincidência da pasta em denúncias de irregularidades, o governo tentou agir rápido, para evitar uma sangria maior. O receio da presidente é que o escândalo, que envolve o desvio de R$ 400 milhões em cursos de capacitação não realizados, escorresse para o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o que aumentaria o escândalo para a casa dos bilhões de reais.
Desde segunda-feira, quando a Operação Esopo foi deflagrada pela Polícia Federal, a cabeça de Paulo Roberto Pinto ficou a prêmio. Emissários da presidente avisaram a Manoel Dias que ele deveria exonerar o secretário-executivo. Era uma chance para que o ministro não se afundasse no escândalo que assolava a estrutura da pasta. Como tudo no PDT é lento — o próprio Lupi sempre disse que os escândalos duram até que o próximo seja descoberto —, Dias deixou a sugestão em banho-maria e não demitiu Paulo Roberto Pinto, apesar de o subordinado ter sido convocado pela Polícia Federal a prestar esclarecimentos sobre a Operação Esopo. Ele foi um dos conduzidos coercitivamente pela PF, acusado de envolvimento no esquema que tem como pivô a organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (MDC), com sede em Belo Horizonte. Entre os 22 presos pela PF, está o presidente do IMDC, Deivson Oliveira Vidal – que teve carros, dinheiro, joias e um helicóptero apreendidos – e toda a diretoria da Oscip. A entidade atua em 10 Estados, incluindo Minas, e no Distrito Federal.
Sem paciência O ministro descobriu, no entanto, que a paciência de Dilma não é infinita. Ontem, durante a reunião com senadores da base aliada, ela deixou duas vezes a sala para tratar da crise no Ministério do Trabalho. O encontro com os parlamentares durou até as 14h. Pouco depois das 16h, Paulo Pinto entregou a carta de demissão. "Tenho plena convicção de que sempre agi de acordo com os princípios éticos e balizadores da moralidade pública", disse o ex-secretário executivo.
Na carta de demissão, Paulo Roberto afirma que causou surpresa as denúncias envolvendo o nome do servidor Antônio Fernando Decnop Martins, ex-subsecretário de Planejamento, Orçamento e Administração do Ministério do Trabalho, exonerado depois de preso na operação. "Ele foi indicado pelo Secretário Federal de Controle Interno da CGU, por tratar-se de servidor público efetivo dotado das melhores referências profissionais", completou.
O secretário de controle interno da CGU, Valdito Agapito Teixeira, negou, por meio de sua assessoria, que tenha indicado Antônio Martins para o Ministério do Trabalho. Segundo ele, houve uma consulta informal, à qual ele respondeu que, com base no tempo em que o servidor trabalhou na Controladoria-Geral da União, "não havia nada que o desabonasse". O ex-secretário executivo afirma que todos seus atos à frente da pasta sempre foram baseados em um laudo técnico das áreas subordinadas.
A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, garantiu que não existe estremecimento na relação do PDT com o governo, apesar de mais um episódio de denúncias de corrupção envolvendo pessoas das legenda. Prova disso seria o afago feito pela presidente ao líder do partido na Câmara, André Figueiredo (CE), durante reunião com deputados na segunda-feira. Em seguida, no entanto foi incisiva ao expor a avaliação de Dilma sobre o episódio. "A palavra da presidente em todos esses casos é a mesma: que apresente as justificativas, que se defenda e, ficando insustentável, que saia do governo". Dias entendeu o recado. "Seguro no cargo só a presidente é que diz.", declarou o ministro, em coletiva no início da noite.