Brasília – O advogado Fernando Tibúrcio acusou ontem o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Eduardo dos Santos, de tentar intimidar o senador boliviano Roger Pinto Molina, que prestou ontem seu primeiro depoimento à Justiça brasileira. Segundo o advogado, o diplomata ameaçou extraditar Roger Pinto caso ele comparecesse à Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos sobre a sua fuga, organizada pelo encarregado de negócios da Embaixada do Brasil em La Paz, Eduardo Saboia. O Itamaraty confirmou que Eduardo dos Santos telefonou para Tibúrcio, mas negou o tom de ameaça. A procuradora da República Luciana Loureiro Oliveira, presente na audiência, anunciou que o Ministério Público Federal vai apurar a denúncia.
Tibúrcio disse que recebeu a ligação do secretário-geral, que ocupa o segundo posto mais importante do Itamaraty, no dia 3, após Molina confirmar presença em sessão da Comissão de Segurança da Câmara. Segundo ele, a ligação aconteceu cinco horas antes da audiência, marcada para as 16h30. “Ele (o embaixador Eduardo Santos) me disse: 'Tenho instruções para dizer ao senhor que se o senador prestar depoimento no Congresso ele vai ser expulso amanhã’. Eu lhe disse: 'Se o senhor tem instruções, transmita a quem lhe deu essas instruções que nós não aceitamos ameaças'”, relatou o advogado. Com medo de ser deportado, Roger Pinto desmarcou o compromisso no Congresso.
De acordo com a assessoria de imprensa do Itamaraty, o secretário-geral tinha a intenção de “apenas recordar Molina dos termos da Convenção de Caracas (que define os direitos e deveres de asilados diplomáticos)”.
O senador boliviano prestou ontem depoimento na 4ª Vara da Justiça Federal, em Brasília. A declaração do advogado foi feita a pedido da defesa do diplomata Eduardo Saboia, que trouxe Roger Pinto de La Paz para o Brasil sem o salvo-conduto do governo boliviano. Após a fuga, Saboia foi afastado do posto.
“Saboia salvou a minha vida”, disse o senador, que ficou asilado 455 dias na embaixada brasileira, ao juiz federal Itagiba Cata Pretta Neto. Ele confirmou que pensou em se matar. Ao fim da audiência, o diplomata Eduardo Saboia disse que não se arrepende do que fez por Roger Pinto. “Eu defendi o meu país, defendi uma vida. Eu cumpri ordens”.