Brasília - Se os ministros do Supremo Tribunal Federal aceitarem novo julgamento do mensalão, a mudança pode levar à absolvição dos dirigentes da antiga cúpula do PT do crime de formação de quadrilha. Mais do que livrá-los da punição - e garantir pena menos rigorosa -, a decisão pode promover uma mudança na narrativa política que tem desgastado o partido desde a eclosão do escândalo, em 2005.
Após 53 sessões, a Corte concluiu em dezembro que uma quadrilha organizada e controlada pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, com o apoio do ex-presidente do PT e deputado federal José Genoino (SP) e do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares comprou o apoio político de partidos aliados ao governo Lula.
Contudo, mudanças na composição do Supremo Tribunal Federal tendem a criar um novo cenário nessa interpretação. Primeiro ocorreu a aposentadoria, em novembro passado, do ex-presidente do Supremo, Carlos Ayres Britto, que havia votado pela condenação de petistas por formação de quadrilha.
Em seguida, veio o alinhamento, no início de agosto, dos dois novos ministros, Roberto Barroso e Teori Zavascki, no julgamento do senador Ivo Cassol (PP-RO), contrário à punição do parlamentar por formação de quadrilha com argumentos semelhantes ao do processo do mensalão.
Essa eventual mudança se baseia em um raciocínio jurídico e político - o PT sempre reclamou de não ter uma resposta satisfatória para rebater a acusação de que uma quadrilha operou para se perpetuar no poder no governo federal.
Mas, para cientistas políticos ouvidos pela reportagem, o adiamento da decisão final sobre o caso pode trazer prejuízos ao partido. “Para o PT e para a presidente Dilma, talvez fosse mais interessante que essa questão fosse resolvida agora, e não às vésperas da eleição de 2014”, disse Leonardo Barreto, doutor em Ciência Política pela UnB.