Neste ano, três operações da PF em Minas já apontaram desvio de R$ 78 milhões de recursos públicos, sem considerar os valores da Operação Esopo, desencadeada na segunda-feira. Essa última investida policial estancou um esquema de apropriação de verba do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estimado em R$ 400 milhões – em Minas e outros 10 estados, além do Distrito Federal –, que deveriam impulsionar o Programa ProJovem. Os recursos engordaram os bolsos de políticos, servidores e ex-prefeitos, que usaram a organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC), do empresário Deivson Vidal, como caixa de passagem para os valores. A PF não informou quanto foi desviado no Distrito Federal.
O esquema para beneficiar sua base eleitoral colocou o deputado do PSD no centro não só da Operação Esopo, mas também da Operação Violência invisível, que investigou o uso de precatórios falsos para abater dívidas de impostos das prefeituras com a União. De acordo com as investigações, o operador do esquema foi o lobista Marcos Vinícius da Silva, o Marquinhos, braço direito do deputado, que ocupou o cargo de assessor parlamentar dele de 2010 até ter sua prisão decretada, em junho, na investida da PF. Apenas dois meses depois, Marquinhos voltou a ter prisão preventiva decretada na Operação Esopo, mas permanece foragido.
Por meio de nota, o Ministério Público Federal esclareceu que não está investigando o parlamentar do PSD, que tem direito a foro privilegiado. As evidências contra o parlamentar surgiram em depoimentos de ex-prefeitos presos na segunda-feira, por participar do desvio da verba do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Desde que foi acusado por ex-prefeitos de negociar os recursos do Ministério do Trabalho diretamente com o ex-titular da pasta Carlos Lupi (PDT) – que deixou o cargo por suspeita de beneficiar organizações não governamentais (ONGs) irregulares –, o deputado nega qualquer irregularidade na captação ou aplicação dos recursos.
Operações da Polícia Federal e Ministério Público
Grande Família
>> Julho de 2011 - Inicialmente investigações realizadas pelo Ministério Público Estadual (MPE) apontaram desvio de recursos públicos relativos a medicamentos pagos e não entregues pelos fornecedores. A Operação foi batizada de Grande Família pelo fato de a maioria dos envolvidos serem parentes do então prefeito de São João da Ponte, Fábio Luiz Fernandes Cordeiro (PTB), o Fábio Madeiras.
Cidade: São João da Ponte
Desvio: R$ 100 milhões
Máscara da Sanidade
>> Junho de 2012 - Teve como objetivo desarticular organização criminosa que desviava recursos públicos de 36 cidades mineiras a partir de fraudes em processos licitatórios. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão nas prefeituras de Bocaiúva, Bonito de Minas, Brasília de Minas, Campo Azul, Capelinha, Capitão Enéas, Claro dos Poções, Cônego Marinho, Coração de Jesus, Engenheiro Navarro, Francisco Sá, Glaucilândia, Guaraciama, Indaiabira, Itamarandiba, Januária, Joaquim Felício, Josenópolis, Manga, Mato Verde, Olhos D’água, Padre Carvalho, Pai Pedro, Patis, Pedras de Maria da Cruz, Pirapora, Porteirinha, Salinas, Santa Cruz de Salinas, Santo Antônio do Retiro, São Francisco, São João da Ponte, São João das Missões, Taiobeiras, Ubaí e Varzelândia.
Desvio: R$ 100 milhões
Laranja com Pequi
>> Junho de 2012 - A operação teve como alvo a prefeitura de Montes Claros. Segundo o Ministério Público, os envolvidos combinavam, previamente, os preços e condições para o fornecimento de alimentos para escolas e presídios da cidade. Em Montes Claros, as suspeitas começaram quando o
valor gasto anualmente com a merenda escolar passou de R$ 2 milhões
para R$ 12 milhões.
Desvio: R$ 50 milhões
De volta para a Máscara
>> Abril de 2013 - Reprimiu crimes de formação de quadrilha, fraude em
licitações, peculato, desvio de verbas públicas da educação e lavagem de dinheiro, no aprofundamento da Operação Máscara da Sanidade. Cinco pessoas foram presas em Montes Claros por acusação de fraudar licitações em
Bonito de Minas.
Desvio: R$ 100 milhões
Sertão Veredas
>> Maio de 2013 - Esquema de fraude em licitações e em obras e serviços públicos em cidades do Norte de Minas, da Bahia e do Espírito Santo. O dinheiro desviado, entre outros destinos, era aplicado na compra de imóveis e
carros de luxo, propriedades rurais e casas de veraneio no litoral capixaba e no Sul da Bahia.
Municípios: Montes Claros, São Francisco, Itaracambi, Januária,
Manga e Janaúba
Desvio: R$ 5 milhões
Violência Invisível
>> Junho de 2013 - Tinha como alvo organização criminosa que desviava recursos públicos de mais de uma centena de cidades dos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Pará, Sergipe, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Maranhão e Bahia, por meio de fraudes em processos licitatórios destinados à aquisição de precatórios judiciais. Em Minas, as prefeituras investigadas foram Águas Vermelhas, Capelinha, Caratinga, Ipatinga, Itambacuri, Janaúba, Montes Claros, Pirapora, Rio Pardo de Minas, Várzea da Palma, Varzelândia, além do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Rede de Urgência do Norte de Minas.
Desvio em Minas: R$ 70 milhões
Odin II
>> Agosto de 2013 - Antônio Cordeiro, ex-prefeito de Coração de Jesus, cidade do Norte de Minas, foi preso durante uma operação da Polícia Federal. Em quase 20 anos, Cordeiro teria desviado cerca de R$ 100 milhões. Três mandados de prisão foram expedidos para a Operação Odin 2. Além do ex-prefeito, foram presos o engenheiro civil responsável pelas obras da cidade e Evandro Garcia Leite, apontado como o chefe da organização criminosa desmontada durante outra operação, em junho do ano passado, a Máscara da Sanidade. A Odin I foi realizada um ano antes também para conter desvio de verba pública.
Desvio: R$ 2 milhões
Esopo
>> Setembro de 2013 - Teve como alvo o esquema crimonoso que funcionava com a participação de uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) e de empresas, pessoas físicas, agentes públicos, prefeituras, governos estaduais e ministérios do governo federal. Em cinco anos, o prejuízo seria de
R$ 400 milhões, em 10 estados e no Distrito Federal. Foram alvo da operação as administrações das cidades do Norte mineiro Araçuaí, Coração de Jesus, Januária, São Francisco, São João da Ponte e Taiobeiras, além de Três Corações, no Sul de Minas
Desvio em Minas: R$ 3,5 milhões (esquema teria desviado R$ 400 milhões)