Brasília – Suspeito de ser o verdadeiro dono do Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC) – organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) que é pivô do esquema de desvio de R$ 400 milhões em convênios com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) –, o deputado federal Ademir Camilo (PSD-MG) começa a semana com sua situação política em xeque. Como seu nome só havia aparecido no dia em que a Operação Esopo foi deflagrada por causa da prisão de um ex-assessor, não havia ainda cobranças na Câmara dos Deputados contra ele. No entanto, após o Estado de Minas revelar que o parlamentar pode estar envolvido ativamente no escândalo, congressistas e partidos admitem a gravidade do caso e prometem pedir explicações aos investigadores sobre o envolvimento de Camilo no golpe. Se confirmadas as suspeitas, ele poderá ser alvo de processo por quebra de decoro.
Com a verba liberada, Marcos Vinicius Silva, o Marquinhos, na época assessor de Camilo, era designado a garantir que os municípios contratariam o IMDC para a execução do programa. Os recursos então acabavam desviados sem a prestação do serviço. Camilo nega ter envolvimento no esquema. Por meio de nota, o Ministério Público Federal esclareceu que não está investigando o parlamentar do PSD, que tem direito a foro especial.
Providências O líder da minoria na Câmara, Nilson Leitão (PSDB-MT), afirmou ontem que a oposição já estuda tomar providências sobre o escândalo no Ministério do Trabalho, que já derrubou o número dois da pasta, Paulo Roberto Pinto, e assessores do ministro Manoel Dias. Leitão diz que vai pedir formalmente à Mesa Diretora da Casa que solicite à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal (MPF) informações sobre o envolvimento de Ademir Camilo no esquema. “Queremos conhecer a fundo esse assunto, pois não é a primeira vez que esse ministério tem problemas”, comentou ele. O líder acrescenta que, dependendo da resposta dos órgãos, poderá pedir que seja aberto processo de quebra de decoro contra o parlamentar. “A Câmara tem obrigação de investigar qualquer denúncia que coloque em dúvida o comportamento de um homem público, principalmente quando envolve dinheiro público”, argumentou.
Para que seja apurado se Camilo quebrou o decoro parlamentar, é preciso haver um processo disciplinar na Corregedoria ou no Conselho de Ética (veja quadro). O presidente do Conselho, Ricardo Izar (PSD-SP), comenta que ambos os órgãos precisam ser provocados para poder agir. “Acredito que todas as denúncias devem ser apuradas, o que é bom para todas as partes. Se ficar provado o envolvimento, que se analise uma ação internamente; se não houver veracidade, o caso é arquivado”, ressaltou.
O corregedor da Câmara, Átila Lins (PSD-AM), lembra que o próprio presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pode ordenar que isso ocorra. “Entendo que as denúncias são graves e não tenho dúvida de que a Câmara vai tomar providências diante de um tema como esse, que tem reflexo no Poder Executivo federal”, destaca. Procurado pelo Estado de Minas, Henrique não retornou as ligações.
Questionado se o PSD tomará alguma providência em relação a Camilo, como pedir explicações a ele sobre as denúncias, o líder do partido, Eduardo Sciarra (PR), lavou as mãos. “Nós nem cogitamos discutir esse tema porque na semana passada, quando apenas o ex-assessor dele havia sido citado na operação, o deputado me comunicou que ia sair do partido e iria para o Pros (legenda que ainda está em fase de criação). Então eu já considero que ele não faz mais parte do PSD”, esquivou-se o líder.
Réu no Supremo
Aliado histórico do ex-ministro Carlos Lupi, não é a primeira vez que Ademir Camilo é citado em uma investigação feita pela Polícia Federal. Em agosto, ele apareceu como autor de emendas parlamentares destinadas à construção de uma estrada que se perdeu pelo caminho, e foi investigado pela Operação Odin II. Ele e o ex-assessor Marcos Vinícius da Silva também apareceram na Operação Violência Invisível, que investigou o uso de precatórios falsos para abater dívidas de impostos das prefeituras com a União.
Em 2011, na Operação Pasárgada, a PF interceptou um diálogo entre o deputado e o lobista Paulo Sobrinho de Sá Cruz, apontado como mentor do esquema que desviou mais de R$ 200 milhões do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) em Minas Gerais. Na conversa, Ademir Camilo cobrava que fossem liberadas certidões negativas de débito de cidades de sua base eleitoral e ainda pede para ser sócio do esquema do lobista. Camilo também é réu em uma ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) em que é acusado de falsificação de documento público.
O deputado federal de 49 anos, nascido em Teófilo Otoni (MG), está no terceiro mandato na Câmara dos Deputados e já foi vereador e vice-prefeito de sua cidade natal. É advogado, administrador hospitalar e médico — ginecologista, obstetra, legista e do trabalho.
Inexpressivo no Congresso, Camilo é considerado um nômade partidário: em pouco mais de 20 anos, já esteve em cinco legendas e está de malas prontas para a sexta. Passou pelo PSDB, PPS, PL, PDT e anunciou semana passada que vai se mudar do PSD para o Pros, que ainda está em gestação. (AC)