São Paulo - O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, admitiu que “recomendou” a ONG Centro de Atendimento ao Trabalhador aos ex-ministros do Trabalho Carlos Lupi e Brizola Neto, por sugestão de cardeais das arquidioceses de São Paulo e do Rio. “Mas eu nunca pedi que forçassem uma barra para o Ceat.”
“Mais de uma vez vieram pedir. Padre Lício dizia para que eu falasse que o Ceat é de gente séria”, relata Carvalho. “Falei com o Lupi, depois com o Brizolinha. Pedi que atendessem, sempre ressaltando que olhassem a prestação de contas.”
O ministro demonstra inconformismo. “Esse é o típico caso em que a gente deu apoio confiando muito na posição da Igreja. O Ceat sempre foi o orgulho da Igreja. Não estou dizendo que há algum culpado, mas agimos baseados nas recomendações de dom Cláudio e dom Odilo Scherer e de dom Orani (cardeal do Rio). Quem sempre reforçou a referência sobre padre Lício foram eles. Padre Lício sempre teve comportamento irrepreensível.”
Carvalho destaca que o Ministério do Trabalho e a CGU “não sinalizaram” com problemas nas contas da ONG. “Recomendei o Ceat sim, com a chancela da Arquidiocese de São Paulo e do Rio, que atestavam o trabalho como muito consistente.”
“Padre Lício veio me convidar para evento do dia 1.º de maio, veio com a Jorgette (presidente da ONG) e com gente respeitável. Aí pediu que eu falasse com o ministro Manoel Dias, que seria importante. Eu disse: ‘fale direto com o ministro, ele já conhece o trabalho de vocês’. Eu não fiz nenhuma interferência, até poderia ter falado com o ministro (Manoel Dias), como falei com os outros (Lupi e Brizola) porque não tinha suspeita sobre o Ceat. Assim como eu, a Igreja ficou absolutamente surpresa. Essa é a verdade.”
“Quando houve as prisões eu pensei que devia ser engano muito grave, alguma pirotecnia. Liguei para o Zé Eduardo (Cardozo, ministro da Justiça), ele disse que era coisa séria. Tentei falar com d. Cláudio, estava em retiro. Dom Odilo já sabia das prisões, muito surpreso.”
O criminalista Pedro Iokoi, que defende Jorgette, disse que o Ceat “não é entidade de fachada, promove trabalho de grande relevância social”.