A tão esperada decisão do ministro Celso de Mello sobre a admissibilidade dos embargos infringentes mereceu aplausos de alguns e críticas de outros. Há quem diga que o voto do decano do Supremo Tribunal Federal (STF) foi coerente e representa uma “aula de direito”, mas também quem avalie que os ministros perderam a credibilidade conquistada na sociedade depois do julgamento que condenou 25 envolvidos no esquema do mensalão – maior caso de corrupção política discutido na história do Brasil.
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Comemoração e indiferença em Passa Quatro, terra de Dirceu, com decisão no STFDecisão final do mensalão vai ficar para 2014Celso de Mello aceita embargos infringentes e réus terão direito a novo julgamentoMinistro do STF diz que corrupção está impregnada nos partidosManifestantes deixam pizzas no STF em protesto contra reabertura de julgamento Réus 'coadjuvantes' no processo do mensalão podem ser presos antesPlanalto e cúpula do PT mantêm discrição sobre mensalãoO defensor público federal chefe em Minas Gerais, Luiz Henrique de Vasconcelos Quaglietta Correa, lembra que, diante de uma dúvida, a interpretação das normas deve ser feita de forma a favorecer o réu. Além disso, ele argumenta que o Pacto de San José da Costa Rica – do qual o Brasil é signatário – amplia as possibilidades de direitos e garantias de acusados em processos penais. “Se não existe outro órgão para que os réus recorram, então que seja ao próprio Supremo”, disse. Isso porque o STF é a instância máxima do Judiciário no Brasil.
Para Luiz Correa, o ministro Celso de Mello foi coerente com uma linha que ele vem seguindo na sua trajetória no Supremo, que é a defesa das garantias dos acusados e da ampla defesa. “Acatar os embargos não significa ser defensor da impunidade. Uma coisa é aceitar o recurso, outra é julgar o mérito”, argumentou. O advogado e integrante do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) Luciano Santos pensa diferente. Santos avalia que, por mais que a decisão dos ministros tenha sido técnica, o voto a favor dos embargos infrigentes “encerra um crédito” da opinião pública ao STF e traz uma sensação de impunidade.
ENREDO Na opinião de Luciano Santos, o julgamento do mensalão foi, em sua essência, emblemático e muito eficiente; os réus já haviam sido julgados numa Corte privilegiada e, por isso, “o caso já poderia ter sido encerrado”. Os rumos que o caso tomou não agradaram ao secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco. “Vai ser difícil acordar amanhã. Sonhávamos com um marco para o fim da impunidade e nos deparamos com os recursos dos recursos, os embargos dos embargos. O enredo parecia diferente, mas o final do filme será o de sempre. Os tubarões não irão para a cadeia”, protestou.
Já o cientista político Ricardo Ismael diz que o Supremo optou por protelar o cumprimento das sentenças. Ele afirma que a sensação de impunidade tende a aumentar na sociedade brasileira. "O que mais lamento é que isso vai demonstrar que nem todos são iguais perante a lei. Infelizmente, para alguns os julgamentos são ritos sumários, são rápidos. Para outros, os poderosos, os processos podem se arrastar por anos", critica. (Com agências)