Dois dias depois do segundo turno das eleições municipais, 15 deputados se reuniram em Brasília no apartamento de Augusto Coutinho (DEM-PE) para discutir a criação de um partido. O principal articulador da ideia, o deputado Paulinho da Força (PDT-SP), alertou todos a atuarem “na clandestinidade”. Em seguida, o advogado trabalhista Marcílio Duarte assumiu a face pública e a gestão do Solidariedade, sétimo partido que ajuda a fundar. Com esse histórico, o “fabricador” de siglas faz um diagnóstico sobre outra legenda: a ex-senadora Marina Silva “demorou demais” para criar a Rede Sustentabilidade.
Pelo menos desde as eleições de 2012 as exigências da Justiça Eleitoral para a criação de um partido se tornaram tão ou mais conhecidas que programas de governo. A legislação exige 492 mil assinaturas e registro de nove diretórios para reconhecer uma legenda. A maratona para coleta e validação desses nomes veio a público em 2011 com a criação do PSD, presidido pelo ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab (ex-DEM), e agora com a Rede de Marina - em 2010, a ex-petista disputou a Presidência pelo PV.
Com menos holofotes, Marcílio Duarte atuou na criação de Prona, PGT, PTN, PTR, PSL e PST - o primeiro da lista surgiu em 1989. “Ele é o recordista mundial em criação de partidos”, brinca Paulinho. O advogado é o presidente do Solidariedade, mas entregará o cargo ao deputado na quarta-feira e assumirá a secretaria-geral do partido.
Na reunião de 2012, Paulinho pediu “clandestinidade” para evitar ataques do governo federal e dos caciques partidários sobre os “desertores”, futuros integrantes da nova bancada. Um deles, o tucano João Caldas (PE), levou Marcílio ao grupo.
A tática pode ter dado resultado: o Solidariedade espera filiar “pelo menos” 30 deputados, parte deles vindos do recém-criado PSD. “A expectativa é tenebrosa para o PSD, que não terá como recuperar na Justiça os mandatos perdidos”, avalia o advogado.
Marcílio diz que não é fácil fundar uma sigla. “Só no 1.° de maio coletamos 120 mil assinaturas com o pessoal da Força Sindical”, afirma. Por isso o advogado avalia que Marina demorou a criar a sigla - a ex-senadora divulgou a iniciativa em fevereiro, oito meses antes do prazo legal para a Rede poder participar das eleições de 2014.
“Ela demorou demais. Eu falei isso para o Waltinho (Feldman, deputado do PSDB paulista e operador político da Rede). O PRB demorou dois anos e meio, mesmo com o apoio da (Igreja) Universal”, diz Marcílio.
Mas o advogado concorda com as críticas de Marina sobre a burocracia dos cartórios eleitorais. “Quem confere as assinaturas não tem a formação adequada. A comparação visual é precária”, diz. “Não conheço o processo dela, e nem ela pessoalmente, mas, se for chamado para ajudar, estou à disposição.”