Chefes de Estado do mundo todo vão se reunir, a partir desta terça-feirae, em Nova York, para mais uma Assembleia Geral das Nações Unidas, pautada este ano por crises e ineditismos. No discurso de abertura, missão tradicionalmente atribuída ao Brasil, a presidente Dilma Rousseff colocará a espionagem em discussão. As denúncias de que os Estados Unidos estariam bisbilhotando governos estrangeiros provocaram diversos atritos diplomáticos entre Washington e países aliados. As divisões em torno da crise síria deverão ficar evidentes e poderão dar o tom em uma possível resolução do Conselho de Segurança, pela qual o governo americano tem pressionado seus membros. A grande surpresa, entretanto, deverá ficar por conta do aguardado discurso do novo presidente iraniano, Hassan Rowhani. Ao longo da última semana, o líder moderado do regime teocrático islâmico acenou com mensagens de reaproximação com o Ocidente. Antes de embarcar para os EUA, ele declarou que vai apresentar “a face verdadeira do Irã” e buscar cooperação com o Ocidente.
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Três perguntas para...
Matthew Taylor, Cientista político e professor da American University, em Washington, especialista em temas do Brasil
Na sua opinião, como deverá ser o tom do discurso da presidente Dilma Rousseff ao falar sobre espionagem?
Me parece que a presidente Dilma tem todas as condições para oferecer um discurso importante, que ajude a colocar o assunto da espionagem na pauta internacional. A dúvida é saber para qual plateia ela quer discursar. Se resolver se voltar para a brasileira, acho que a tendência será apelar à soberania e ao patriotismo. Mas, se discursar pensando em realmente mudar os hábitos dos grandes poderes, ela terá de ser menos veemente e mais comedida, oferecendo soluções efetivas de médio e longo prazo.
E como ela poderá fazer isso?
Isso não será fácil, até porque os poderes maiores acreditam que a espionagem é contínua e, de certa forma, esperada. Portanto, há uma grande chance de as soluções oferecidas por poderes emergentes, como o Brasil, serem vistas como ingênuas ou irrealistas. Equilibrar o discurso para conseguir convencer as duas plateias será difícil, especialmente com a aproximação do ano eleitoral no Brasil e o fato de o foco das atenções na ONU estar na Síria e no Irã. Não me surpreenderia, portanto, se o discurso acabasse sendo muito mais focado em atender às necessidades políticas imediatas da presidente no Brasil.
Como seria um eventual encontro dela com o presidente Barack Obama?
Certamente, a presidente deverá buscar explicações, e tenho a sensação de que ela agirá com pulso firme, pensando ativamente na repercussão que a cobertura do encontro terá na política interna do Brasil. Mas também acho que os dois lados sabem que não há ganhos sensíveis em extrapolar na discordância: Obama não conseguirá dar todas as explicações que o governo brasileiro gostaria de receber. Este, por sua vez, sabe que existem limites àquilo que o governo americano pode divulgar. (RT)