Cerca de 100 mil servidores mineiros serão atingidos pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que trata das perdas salariais durante a conversão da unidade real de valor (URV) para o real, em 1994. Na quinta-feira à noite, por unanimidade, os nove ministros do STF unificaram o critério a ser adotado pela Justiça em todo o país para calcular o ressarcimento daqueles que entraram com ações judiciais – em Minas Gerais, tramitam atualmente cerca de 14 mil processos tratando do assunto. Isso porque, na implantação do real como moeda brasileira, vários estados adotaram regras próprias para a conversão, o que levou a perdas para o funcionalismo. Agora, deverá ser aplicada a correção de 11,98% no período entre 1º de março de 1994 – data de implantação da URV – e o início de vigência de leis próprias com a reestruturação das carreiras.
Além disso, os governantes cometeram outro erro que prejudicou os servidores: ao converter os salários de URV para real – moeda que passou a vigorar em 1º de julho de 1994 – não seguiram as regras previstas na Lei federal 8.800/94. Pela legislação, o cálculo deveria adotar o valor da URV em 1º de março. No entanto, alguns estados e municípios adotaram outras datas, que tinham índices inferiores. Dessa forma, na conversão para o real, os vencimentos ficaram defasados. Para os ministros do STF cabe apenas à União estabelecer os critérios de conversão de moedas, por isso, prefeitos e governadores teriam que seguir o que diz a Lei 8.800. Os ministros definiram o critério ao julgar uma ação protocolada por funcionária pública do governo do Rio Grande do Norte, e decidiram aplicar a chamada repercussão geral, ou seja, o entendimento deverá ser seguido por todos os juízes e desembargadores ao julgar ações semelhantes.
Polêmica Por meio da Advocacia Geral do Estado (AGE), o governo mineiro informou que nas ações que tramitam em Minas Gerais já defendia a tese de que o ressarcimento deveria ser calculado apenas entre o lapso temporal do início da vigência do real e das leis tratando as carreiras dos servidores. O critério, segundo a AGE, vinha sendo acatado por grande parte dos magistrados no estado: para se ter uma ideia, entre as 6.973 ações referentes a URV julgadas entre 2010 e 2012, o argumento foi aceito em 6.703 delas. Naquelas em que o governo foi derrotado, os servidores já começaram a receber parcelas da indenização.
Embora a decisão do Supremo seja importante para unificar as decisões e acabar com uma polêmica que atrasava o julgamento dos processos, não significa que os servidores receberão o dinheiro de imediato. As ações continuarão com a sua tramitação normal e cada juiz terá que avaliar caso a caso, com base nos dados apresentados. Além do acréscimo de 11,98% os servidores receberão o ressarcimento com juros e correção monetária. Servidores do Judiciário, Legislativo e Ministério Público mineiros já estão sendo as indenizações.
Direitos
De acordo com entendimento fixado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nem todos os servidores estaduais e municipais do país poderão ser beneficiados. Somente terão direito à correção aqueles funcionários públicos cujos estados ou municípios utilizaram regras locais, que contrariaram a lei federal de criação da URV.