Jornal Estado de Minas

Criação da Rede de Marina Silva está sob pressão

A dois dias do julgamento do pedido de criação da sigla, Marina tenta convencer ministros do TSE a considerarem 95 mil assinaturas de apoio à sigla rejeitadas por cartórios eleitorais

Diego Abreu Daniela Garcia
Marina Silva, pré-candidata à Presidência pela Rede Sustentabilidade, em fase de registro - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr Brasilia Sem o número mínimo de 492 mil assinaturas certificadas pela criação da Rede Sustentabilidade, a ex-senadora Marina Silva chega à antevéspera da sessão na qual o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apreciará a concessão do registro do partido com a estratégia de convencer os ministros a considerarem 95 mil fichas rejeitadas na fase de coleta de apoios. Pressionada, a presidenciável apela para o discurso de que a Rede foi “injustiçada” por cartórios eleitorais, que, segundo ela, rejeitaram assinaturas “sem justificação”. Conforme números do TSE, a sigla conta com 442 mil certidões – 50 mil a menos que a quantidade exigida por lei. Marina, no entanto, se mostra confiante em uma decisão favorável no julgamento, marcado para quinta-feira.


Relatora do processo, a ministra Laurita Vaz fixou prazo que se encerra às 18h desta terça-feira para que o Ministério Público Eleitoral (MPE) se manifeste no processo. A magistrada afirmou ontem que não há tempo hábil para que o pedido de registro seja apreciado na sessão extraordinária de amanhã, pois ela terá que analisar o novo parecer do MPE. Assim, o Dia D da Rede será a quinta-feira, quando o TSE realizará sua última sessão dentro do prazo final de 5 de outubro, um ano antes das eleições de 2014.
A ex-senadora Marina Silva começou a semana decisiva para o futuro político reunida com a Executiva da Rede a fim de articular estratégias para que o partido receba o maior número possível de filiações até sexta-feira. Com um discurso de que a legenda representa um novidade no cenário político, ela contestou a declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista aos Diários Associados, de que ela deveria assumir que a Rede será um partido tal como os outros, e não uma rede. Ex-filiada ao Partido dos Trabalhadores, ela lembrou que o PT sofreu críticas semelhantes quando foi criado na década de 1980. “Diziam que nós éramos um partido que estava desconfigurando os partidos de esquerda. Era muito difícil convencer as pessoas de que naquela época o PT era uma atualização da política para um novo sujeito político que estava surgindo”, afirmou a ex-senadora.

No primeiro parecer sobre a criação da Rede enviado há 10 dias ao TSE, o vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, manifestou-se contra a criação da legenda pelo fato de a sigla não ter obtido a quantidade mínima de assinaturas. Marina passou o dia de ontem na sede provisória da Rede, em Brasília, onde definiu a realização de um ato simbólico em apoio à criação da legenda, marcado para as 17h de hoje, na Praça dos Três Poderes. “Queremos dar corpo e alma àquilo que estamos verbalizando e àquilo que estamos documentando junto à Justiça em relação à perda dos prazos, à falta de parâmetro, às anulações injustas de 95 mil assinaturas”, explicou a ex-senadora, que deve se reunir hoje com a presidente do TSE, Cármen Lúcia. A audiência foi pedida ontem por Marina, que já se reuniu com a maioria dos sete ministros da Corte eleitoral.

Diante do curto prazo para a filiação de políticos à nova legenda, a Rede já organiza fichas de futuros integrantes. De acordo com números parciais, a sigla conta com 3,5 mil pré-filiados, dos quais cerca de 50% devem se candidatar a cargos eletivos em 2014 se a legenda conseguir o registro.

Alta rejeiçÃo no ABC

De todos os colégios eleitorais do país, a Rede enfrenta a maior rejeição de assinaturas nos cartórios do ABC Paulista, berço político do PT (veja quadro). Na 414ª Zona Eleitoral, de São Bernardo, o índice de invalidação chega a 78%, com a recusa de 700 entre as 897 assinaturas entregues. A pré-candidata ao Planalto em 2014 evita falar em interferência política no trabalho da Justiça, mas afirma que o número superior de rejeição no local “é um comportamento completamente atípico”, na comparação com a média nacional de 24%. Os altos índices se repetem em Mauá e Santo André. Nos três municípios, as prefeituras são lideradas pelos petistas, respectivamente, Luiz Marinho, Donisete Braga e Carlos Grana.

Marina Silva afirmou nessa segunda-feira causar “estranheza” o ABC contar com um índice de invalidação de 53%, em média, superior aos 35% de São Paulo. “Obviamente isso é algo para ser avaliado. Mas não podemos fazer nenhum tipo de ilação. O que nós queremos é uma reparação”, afirma.

Os chefes dos cartórios das cidades citadas se negaram a falar com a reportagem. O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), por meio de assessoria de imprensa, negou que o fato tenha a ver com pressões políticas. “O trabalho nos cartórios é feito de forma burocrática e com muito zelo”, afirmou.