O ex-governador de São Paulo José Serra anunciou ontem que vai continuar no PSDB, colocando um ponto final na ameaça feita no fim do ano passado, depois de que ele perdeu para o PT a disputa pela prefeitura da capital paulista. Cortejado por outros partidos que chegaram a lhe oferecer a possiblidade de se candidatar ao Planalto, em especial o PPS, Serra aproveitou o anúncio de que vai ficar no ninho tucano para atacar o partido da presidente Dilma Rousseff. “A minha prioridade é derrotar o PT, cuja prática e projeto já comprometem o presente e ameaçam o futuro do Brasil”, afirmou ele, em nota publicada em sua página pessoal no Facebook. O ex-governador, porém, não deixou claro se pretende concorrer a algum cargo nas próximas eleições. A decisão foi tomada após dois encontros com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), pré-candidato do partido à Presidência da República. A primeira reunião entre os dois foi na quinta-feira da semana passada e a segunda anteontem, em um apartamento na Zona Sul de São Paulo.
O mistério sobre o futuro de Serra foi desfeito às vésperas do fim do prazo para troca de filiação de quem pretende disputar a eleição do ano que vem, no sábado. Serra foi derrotado duas vezes na eleição para o Palácio do Planalto. A primeira em 2002, quando perdeu no segundo turno para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A segunda oito anos depois, quando foi vencido também no segundo turno pela presidente Dilma Rousseff. No ano passado, perdeu a capital paulista para o ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT).
O presidente do PSDB não poupou elogios ao correligionário. “Serra tem capital político e capital eleitoral, algo raríssimo hoje de se encontrar no Brasil. É uma história que honra a vida pública brasileira. Desde a luta pelas liberdades e pela democracia, na resistência, o tempo inteiro com absoluta coerência, nos cargos que ocupou sempre com extrema eficiência e correção”, afirmou Aécio.
A despeito de ter sido o único protagonista do último programa do partido em rádio e televisão, sinalizando que o partido está fechado com o seu nome, o senador concluiu a nota publicada no site tucano dizendo que ainda não é o momento de definir a candidatura do partido. “A presença de José Serra em nossas fileiras fornece a nós, tucanos, e aos partidos aliados uma opção de grande dimensão política a ser avaliada no momento e segundo critérios adequados para o sucesso da luta comum”, escreveu ele.
Serra, por sua vez, não citou o senador mineiro na nota publicada após o anúncio. Ressaltou que ajudou a criar o PSDB e que a legenda será para ele “a trincheira” adequada para derrotar o PT. “A partir dela me empenharei para agregar outras forças que pretendem dar um novo rumo ao país”, anunciou. O tom da nota seguiu batendo no governo Dilma. “O Brasil não pode continuar vítima de uma falsa contradição entre justiça social e desenvolvimento. É preciso pôr fim a esse impasse, que, na verdade, acaba punindo os mais pobres, incentivando a incompetência e justificando erros grosseiros na aplicação de políticas públicas”, defendeu.
Mineiros comemoram
A decisão de Serra repercutiu bem entre os tucanos mineiros. “É muito bom para Aécio e é bom para o partido”, entende o vice-presidente do PSDB em Minas Gerais, deputado federal Domingos Sávio. Na análise do tucano, caso o ex-governador deixasse o partido seria ruim, por ele ser um “quadro valoroso” do PSDB. “Por mais que o partido tenha bons nomes seria uma perda”, argumentou.
De acordo com Sávio, os adversários do PSDB apostavam muito na divisão entre Serra e Aécio. “Tentaram colocar palavras na boca deles para estimular a divisão”, entende. Sobre as rusgas entre os dois tucanos Sávio acredita que as divergências e disputas são naturais da vida pública e da democracia. “O ideal do PSDB é apresentar uma proposta social democrata aprendendo com os erros e acertos dos nossos governos”, avaliou.
PPS
Depois de dar como certa a filiação de Serra, o PPS lamentou a decisão. “É uma perda significativa para a oposição viabilizar um segundo turno para a Presidência em 2014”, alegou o presidente da legenda, deputado federal Roberto Freire (PE). “O partido como um todo se empenhou em construir essa alternativa e viabilizar a candidatura própria. Encerrada essa etapa, vamos debater os outros cenários dentro do campo da oposição”, completou. O deputado admitiu que o apoio ao PSDB não está descartado, mas avisou: "Pode ser Eduardo Campos (governador de Pernambuco e presidente do PSB), Aécio ou até a Marina, se ela sair candidata. Será decisão do partido. Temos tempo para isso".